PLANTIO

PLANTIO
PLANTIO
(Genaura Tormin)

Deus,
Senhor dos mares e montes,
Das flores e fontes.
Senhor da vida!
Senhor dos meus versos,
Do meu canto.

A Ti agradeço
A força para a jornada,
A emoção da semeadura,
A alegria da colheita.

Ao celeiro,
Recolho os frutos.
Renovo a fé no trabalho justo,
Na divisão do pão,
. E do amor fraterno.

quinta-feira, 12 de março de 2009

É PRECISO TER GARRA


É PRECISO TER GARRA

Eu sou a Genaura Tormin. Estou paraplégica há 25 anos.

Agora, não pulo corda, não ando de bicicleta... Recebi uma dura sentença por crime que não cometi nesta vida. Mataram minhas pernas em mim. Mesmo assim, ainda corro atrás da vida para que ela não corra atrás de mim. Esforço-me para ser a campeã dos meus aprendizados. O meu coração é vivo e o sorriso aflora sempre até os cantos das orelhas. Eu estou viva!!

Às vezes, quando estamos nos píncaros do sucesso, somos atirados inexoravelmente ao caos.É chegada a hora de uma marcante mudança de vida.
Foi o que aconteceu comigo!

Numa manhã de março acordei paraplégica, vítima de uma virose ou de um erro médico.
Na realidade, um turbilhão de dificuldades nunca imaginadas. Uma jovem mulher reduzida a cabeça,seios e braços. O resto, morbidamente alheio ao meu comando: dormente como se não fosse meu. Os meus passos foram banidos. Perdi o meu ir-e-vir cheio de graça, de trejeitos. Poderia ter sido uma bailarina na vida, mas tive a vida para bailar, gingar até encontrar os meus próprios caminhos, lapidar os meus cantos, aparar as arestas.
Lógico que envidei muitos esforços para reverter o descalabro da situação. Sou guerreira de muitas batalhas para não ser escória de uma sociedade que, geralmente, só aceita os fortes, perfeitos e vencedores, sem entender que a pessoa com deficiência é forte e vencedora de si mesma, compulsoriamente.

Consciente de que seria irreversivelmente uma paraplégica, preparei-me e classifiquei-me muito bem para o cargo de Delegado de Polícia de Goiás, e o exerci com presteza, durante 13 anos, ocasião em que, também por concurso público, ingressei no Judiciário Federal, atuando, hoje, na Diretoria de Recursos Judiciais do Tribunal Regional do Trabalho de meu Estado, onde fui, também, subdiretora. Quem falou que deficiente físico não pode trabalhar? Ando de cadeira de rodas e trabalho. Conquistei até o título de “Servidor-padrão”.

Deficiência não é uma opção pessoal. É uma parte natural da experiência humana. Mesmo que nos empreste um visual diferente e algumas dificuldades locomotoras, a mente sã cria soluções para tudo. O trabalho devolve-nos sempre o sentimento de utilidade e supera a defasagem do caminhar.

Baseada no desafio, integro-me muito bem aos grupos de trabalho e luto por tratamento igualitário, mesmo por que, forjada a ferro e fogo, tenho por lema a coragem, o desejo de vencer, e jamais me subjugo às subserviências em busca de protecionismo, benesse, sob o álibi da deficiência. Pelo contrário, preocupo-me em mostrar competência, conquistando respeito pelos meus próprios méritos.

Sinto-me adaptada à vida! Sei que ela se adaptou a mim também. De minha catarse, sou mestra. Já entendo que a minha cadeira de rodas é uma dádiva. Devoto-lhe gratidão. É por meio dela que ando, lido, participo da vida lá fora e nivelo-me aos demais.

Tenho uma família que me ama e não me castra as oportunidades. Pelo contrário, é um nascedouro de forças, incentivos, que me fazem caminhar mesmo sem o uso das pernas. E isso é de importância vital. Talvez seja o segredo de todo o sucesso que tenho conquistado.

Sou escritora. Escrevi PÁSSARO SEM ASAS, já em 6ª edição. É um livro autobiográfico, corajoso, em que me desnudo, viro-me do avesso e conto ao leitor toda a minha trajetória depois dessa nova condição de ‘rodante’: avanços, derrotas, conquistas, aprendizados, até as verdades mais recônditas e inconfessáveis. Relato tudo, não como uma história que haja acontecido no estrangeiro, mas um fato verdadeiro, acontecido aqui mesmo, entre nós, cuja protagonista não foi feliz para sempre, como nos contos de fadas, mas faz-se feliz, viva e atuante.

Mais dois livros, Apenas uma flor e Nesgas de saudade, foram também editados. Neles, enveredo pelos veios da poesia para acalentar instantes, fabricar fantasias e sentir-me inteira outra vez.

A vida continua. Ainda sou perseguidora de sonhos. As portas me fascinam. A vida ainda acontece inteira no meu coração. Acredito no amanhecer, no poder recomeçar a cada dia. Sou a síntese dos meus desejos, compilação de inércias extáticas, mas, ainda, uma inesgotável fonte de encantamento pela vida, pelos amores, pelo belo, pela arte de fazer versos.

Genaura Tormin

3 comentários:

  1. Querida Gê, uma conquista a mais, um desafio vencido, uma vontade realizada.
    Parabéns e vamos continuar vencendo os percalços.
    Deus vela por nós.
    Beijo grande e sucesso com o blog

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  2. Genaura
    Um viajante pelo espaço da poesia tem que se guiar pelo perfume das flores e o verde da natureza para chegar até o seu blog com atrazo mas apressado em ler sua poesia e sentir o seu coração bater forte atrás desse sorriso que é um amor.
    Vejo em você um exemplo de força e afirmação, luta, dedicação e alicerce forte para os pilares da realização em torno das metas escolhidas.
    mochiaro

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  3. Genaura ufa! consegui vou postar novamente para ver se fica legal. Estou apanhando poeticamente mas vou insistir para acertar de vez.
    Obrigado por sua paciencia e assim me deliciar com essa musica que mexe com o coração em torturas de amor.

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O seu comentário significa carinho e aprovação. Fico cativada e agradeço. Volte sempre! Genaura Tormin


LEVE, LIVRE & SOLTA!


Sejam bem vindos!
Vocês alegram a minh'alma e meu coração.

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Era uma luz no fim do túnel e eu não podia perder.
Era a oportunidade que me batia à porta.
Seria uma Delegada de Polícia, mesmo paraplégica!
Registrei a idéia e parti para o confronto.
Talvez o mais ousado de toda a minha vida.
Era tudo ou NADA!
(Genaura Tormin)



"Sou como a Rocha nua e crua, onde o navio bate e recua na amplidão do espaço a ermo.
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.

(Genaura Tormin)