SOU ALEGRE, POR QUE NÃO?
(Genaura Tormin)
Sempre fui uma pessoa muito alegre, espalhafatosa, daquelas “cheguei, estou aqui”. Tenho grande facilidade para relacionar-me com as pessoas, realçando o que me agrada e esquecendo das coisas contrárias. Acho que isso deve ser a lei da vida, pois, viver é maravilhoso, mas muito perigoso.
Preocupo-me muito em dar amor, alegria, pois é dando que se recebe. E se não receber, tudo bem. Fica o sentimento de uma boa ação e de um plantio benfazejo.
Lembro-me de que, quando fiquei paraplégica, as crianças de minha rua lamentavam, dizendo:
— Nossa! Que judiação! Logo a tia Genaura que pulava corda com a gente, andava de bicicleta...
E era mesmo. Quando ia ao mercado da esquina, muitas e muitas vezes deixava as compras no chão para pular corda com a criançada ou dar um chute na bola. Para mim, sempre foi muito fácil e prazeroso assumir todas as idades, todos os papéis. Mas este de paraplégica não estava no meu projeto de vida. Apesar de esquisito, estou tentando sair-me bem.
Agora, não pulo corda, não chuto bola, não ando de bicicleta... Recebi uma dura sentença por crime que não cometi nesta vida. Mataram as pernas em mim. Poderia tê-las usado muito mais vezes! Poderia ter andado descalça, feito grandes caminhadas, pisado na grama, na areia, no barro... Poderia ter evitado veículos. Enfim, poderia ter usado muito mais o meu caminhar faceiro, dançarino, rebolante.
Mesmo assim, ainda corro atrás da vida! Corro atrás de minha evolução como caminhante desta íngreme estrada.
Meu físico é paraplégico, mas a mente e o coração experimentam todas as emoções, sobrevoam todas as paragens, alcançam o infinito. E na fantasia, chuto todas as bolas, pulo corda, ando de bicicleta e sou a campeã dos meus aprendizados. Se as pernas, fisicamente, estão mortas ou incapacitadas, o coração é vivo, o meu desejo latente e o sorriso aflora sempre até os cantos das orelhas.
E isso me basta. É o mínimo indispensável para erguer tudo de novo, embora sobre os escombros. Agora melhor, alicerçado na experiência do viver. Afinal, a vida ainda me agraciou com tantos caminhos a serem percorridos, tantos potenciais a serem desenvolvidos. Cabe a mim o labor do progresso que queira alcançar e o positivismo para enfrentá-lo, na certeza de que jamais serei omissa, pois estou viva!
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