PLANTIO

PLANTIO
PLANTIO
(Genaura Tormin)

Deus,
Senhor dos mares e montes,
Das flores e fontes.
Senhor da vida!
Senhor dos meus versos,
Do meu canto.

A Ti agradeço
A força para a jornada,
A emoção da semeadura,
A alegria da colheita.

Ao celeiro,
Recolho os frutos.
Renovo a fé no trabalho justo,
Na divisão do pão,
. E do amor fraterno.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A PARÁBOLA DOS TALENTOS


A PARÁBOLA DOS TALENTOS
(Genaura Tormin)

"Não se pode servir a Deus e a Mamon"
(Capítulo XVI, 6 a 8)


É um prazer encontrar-me novamente entre vocês!
Saúdo a todos, inclusive aos espíritos desencarnados aqui presentes.
"Que a paz esteja sempre entre nós!"

Pedindo a intercessão dos espíritos protetores para, mais uma vez, ajudar-me a tocar os nossos coração no plantio de uma boa semente, vamos, numa só voz, reafirmar o nosso compromisso de amor: "Irmãos de toda Terra, amai vos uns aos outros!!!

O tema de hoje é o capítulo XVI, 6 a 8, do Evangelho Segundo o Espiritismo.

Como sempre, Jesus falava por meio de parábolas. As Parábolas, geralmente têm dois sentidos: o material e o espiritual. O material é de fácil entendimento porque são os fatos do nosso dia-a-dia. O espiritual, depende da evolução do espírito, da capacidade de assimilação de cada um. Por isso, as interpretações podem ser diversas. As parábolas nos convidam a uma profunda meditação. É preciso senti-las e vivê-las para compreender os ensinamentos contidos.

Desta vez, é a Parábola dos Talentos.

Jesus conta que um homem tendo que fazer uma grande viagem, chamou os seus servidores, colocando em suas mãos os seus bens. Para um deu 5 talentos, para outro 2, e para o último 1 talento. Os dois primeiros trabalharam de tal forma que os talentos se duplicaram, enquanto que o último, achando pouco e pensando na severidade do seu patrão, enterrou-o para garantir a sua restituição.

No retorno, o patrão chamou-os a prestar contas, ocasião em que os dois primeiros servidores foram elogiados por haverem duplicado os talentos e o patrão, ainda, acrescentou-lhes os haveres, admoestando severamente o último servo que se mostrou preguiçoso, indolente, pessimista e nada produziu. O patrão ordenou que o talento lhe fosse tomado e dado ao que agora tinha 10 talentos, além de determinar que o servo indolente, preguiçoso, fosse lançado nas trevas exteriores, onde haveria choros e ranger de dentes.

Conotativamente falando, é o que acontece conosco. Deus nos deu o dom da vida e nos agraciou com muitas possibilidades para conseguirmos alcançar o Reino de Deus. Cabe a nós a disposição para tal. Além de um coração transbordante, Deus deu-nos a inteligência, o livre arbítrio e as ferramentas para a feitura de uma boa jornada, como por exemplo: dois braços, duas pernas, ouvidos, olhos, a fala... E muitas vezes, ficamos na ociosidade ou empregamos o que ele nos deu para praticar o mal.

Lógico que dessa forma teremos de arcar com responsabilidades, que são representadas pelos percalços, os sofrimentos que aqui passamos. Ele quis que entendêssemos que não se deve dar ao homem o que ele pode ganhar com o fruto do seu trabalho, sob pena de roubar-lhe a dignidade. É a lei da justeza. E isso é bíblico, estampado na célebre frase: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”.

Nesta parábola vemos o valor do trabalho, da fidelidade, do esforço para vencer barreiras, e principalmente de nossa missão para com o planeta, pois formamos uma única família. Não estamos aqui por acaso. Estamos em missões na busca do caminho para Deus.

E isso não é fácil. Demanda atributos da alma, determinação... É preciso que sejamos laboriosos, pois sabemos que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus e ao próximo, pelo menos os mais próximos. Quando procuramos ser úteis à vida, ela nos agradece compensando-nos. É a lei do retorno.

Por isso, mãos à obra! Trabalho, trabalho e mais trabalho. Cabeça oca é sempre oficina para o diabo. Trabalho não mata. É não se fazendo nada que se aprende a fazer o mal. O trabalho ocupa o tempo. Constrói prodígios. Além de tudo, significa prece! É uma das mais lindas formas de orar!

O tempo que é o senhor da razão, vai bendizer o fruto do nosso esforço, colocando-nos em semelhantes condições à do servo fiel e laborioso. E isso se chama SUCESSO!

É crescimento espiritual, é ascensão rumo a Casa do Pai, desde que o façamos dentro dos parâmetros da dignidade, do amor ao próximo e da justiça. Com certeza, quando os nossos pensamentos são leais, Deus nos auxilia.

Com o trabalho, lógico que se amealha riqueza. E Deus não a abomina, pelo contrário, a abençoa. Ele nos criou para sermos felizes.
Por isso é necessário sermos sábios para sabermos conservar a caridade, a compaixão, e não fazermos do materialismo o nosso senhor, acarretando mais débitos para existências futuras.

A riqueza não é nociva à salvação. Se o fosse, o trabalho que a consegue seria condenável. E com certeza, viveríamos em um mundo de miséria, fadado a doenças, lamúrias, sem progresso.

É verdade que a riqueza é uma prova muito perigosa e se mal administrada, leva-nos facilmente à soberba, ao orgulho, a patamares terráqueos exacerbados de egoísmo, de sensualidade, que nos fazem esquecer o caminho para o céu.

É por isso que o rico tem sobre os ombros uma carga maior de responsabilidades para não se deixar levar pelo apego exagerado aos bens terrenos, esquecendo-se da lei do amor. Isso sim, é um grande obstáculo ao propósito a que Deus nos destinou.

O homem tem por missão o aprimoramento do globo, preparando-o para receber, alimentar e educar a população que sua extensão comporta. Razão por que precisa de riquezas para custear pesquisas, no sentido de desenvolver o progresso, a tecnologia, a cibernética, a relação entre os povos para troca de conhecimentos, incluindo aí a troca de solidariedade. É a riqueza que permite o recolhimento de impostos que se revertem em bem para a coletividade, de modo geral.

Não há igualdade distributiva de riquezas entre os homens da terra em razão de suas individualidades, no tocante à inteligência, aptidões e disposição para conservá-las... Isso é natural. Somos individualidades. Cada um persegue seus sonhos com maior ou menor vagar.

Os escritos espíritas dão-nos conta de que a riqueza é deslocada incessantemente para não se tornar improdutiva. Cada um tem a sua vez, possuindo-a a seu turno. Quem não a tem hoje, já a teve ou terá noutra existência. Tudo são provas para exerecitar a paciência, a caridade e a abnegação, contribuindo para o nosso processo evolutivo.

A maneira de demonstrar o nosso amor a Deus é intrínseca, peculiar, mas encontra-se, principalmente, no amor, compaixão e solidariedade que devotamos aos nossos semelhantes, independentemente de quaisquer que sejam as suas religiões, pois pessoas diferentes têm disposições mentais diferentes. A melhor religão é aquela que nos faz melhores. Daí a variedade de religiões. Porém, Deus é o centro de tudo. É o timoneiro da embarcação que não nos deixa à deriva.

Quanto mais nos aproximarmos da caridade, tanto mais destemidos nos tornamos, mesmo diante de circunstâncias desastrosas. É a caridade o estandarte maior da Doutrina Espírita.

Orar e vigiar os atos para não cair em tentação é uma boa prática, pois significa um constante lembrete dos nossos princípios e convicções diários mais arraigados. Orar não significa que tenhamos, impreterivelmente, que exercitá-la apenas em templos. Orar é policiar os pensamentos, é avocar o bem, de maneira que os nossos atos, a nossa fala impulsionem sempre o nosso interlocutor à senda do amor, ou simplesmente, possam ser exemplos dignos de serem seguidos. A verdadeira espiritualidade é uma atitude mental que se pode praticar a qualquer hora.

A vida não erra! Se um fato nos parece errado, é porque não estamos conseguindo ver a verdade. Devemos pedir entendimento. É na queda que os rios adquirem forças. Mais aprendemos com os erros do que com os êxitos, porque eles se gravam mais profundamente em nossa consciência. O espírito sabe tirar proveito evolutivo das experiências adversas para convertê-las em ascensão.

Somos livres para errar, porque a evolução deve nortear-se pela liberdade relativa. Porém é ônus nosso arcar com a certeza de conseqüências dolorosas. A evolução está no constante desabrochar de faculdades novas, erros, correções, reciclagens e aprimoramento. Por isso, devemos estar alerta sempre, pois somos herdeiros dos nossos atos e senhores das nossas colheitas.

Somos responsáveis por tudo que nos acontece na vida. Nossas atitudes criam nosso destino. Não existe injustiça. Deus está no comando de tudo. Se fomos atingidos por essa ou aquela tragédia, foi porque precisávamos aprender alguma coisa.

Geralmente são mestres que nos ensinam o caminho, diminuindo os nossos débitos aqui. Pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Temos de nos fortalecer num só espírito-de-corpo, como irmãos que somos em Cristo.

O Reino de Deus requer vivência. Ele nos vem pelo amoroso e altruístico servir aos nossos semelhantes. Na verdade, SERVIR é a palavra de comando, o caminho mais curto, o mais seguro e o mais agradável que nos conduz a Deus.

Aprenda a perdoar. Quando há entendimento, a mágoa desaparece e não há necessidade de perdão. Ele vem sorrateiro, sem que percebamos. Tudo se reveste de paz, pois o bem é Deus dentro da gente. Evite ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano.

Evite ser desse tipo de pessoas que vivem a dizer: eu não disse!, eu sabia!, bem feito! Evite ser o professor sarcástico, pronto a escarnecer, sem nada fazer. Ajude, pois "benfeitor é o que ajuda e passa. Amigo é o que ajuda em silêncio. Vencedor é o que consegue vencer a si mesmo".

Não jogue fora esta extraordinária oportunidade de habitar este orbe terrestre, acomodando-se como o servo preguiçoso da parábola. Faça valer sua passagem por aqui, lembrando-se de que é ilusão pensar que a vida, que já é tão pequena, termina com a morte. O espírito é eterno.

No universo nada se perde, tudo se transforma. É como prega a lei de Lavoisier. A morte é uma transformação. Apenas mudamos de vestimenta. Mas o espírito continua do mesmo jeito, consciente de tudo, com os mesmos amores e desejos que sempre tivera, embora, quando reencarnado não tenha essa lembrança. Isso significa uma bêncão, para que possamos construir, crescer e evoluir. Sabemos, inclusive, que o espírito geralmente reencarna entre as pessoas com quem tenha desenvolvido laços anteriores, o que justifica a necessidade de ajustes pendentes para se cumprir a lei do Amor.

Jesus quis dizer claramente que: fora da caridade não há salvação
(Várias modalidades de caridade)

Lembremo-nos de que todo homem é um milagre de Deus e traz em si uma revolução, que é muito maior do que dinheiro, porque a importância está no espírito. Fomos criados para construir pirâmides e versos, para nos tornar anjos, habitar a Casa do Pai. Ele mesmo disse: A casa de meu Pai tem muitas moradas. Cada homem foi feito para fazer história.

O avançado da hora se registra. Caminhamos para o término deste meu gostoso convívio com vocês. Esperando ter conseguido construir algum bem, vamos arrematar com uma reflexão sobre o exercício desta caminhada que chamamos de vida, estampada na transparência acima:

"Viver ...
É ter consciência da realidade que se esconde atrás da aparência.
É ver além dos cinco sentidos.
É enxergar com os olhos da alma ...
A vida materializa nossos pensamentos.
Conforme acreditarmos, ela se torna.
Cultivando o medo, a falta de amor, o egoísmo e a descrença, não há nada a construir.
Não é esse o caminho.
As pessoas querem, mas suas atitudes revelam o oposto.
Para receber é preciso primeiro dar.
Para atrair é preciso irradiar.
Essa é a força da vida!
Se Deus colocou tanta beleza, tanta vida,
tanta alegria e perfume em simples flores,
o que não terá feito com o Homem?!?
Deus sempre faz o melhor.
Ele nos deu beleza, sentimento, alegria, bondade e a possibilidade de escolher.
A dor, o sofrimento, a maldade, o ódio,
a ignorância vêm da nossa necessidade de perceber.
Deus permite o contraste para que possamos enxergar claro.
De que adiantaria acender uma luz na claridade?
É nas trevas que ela é percebida.
Sem a tristeza, a alegria não seria apreciada.
Sem a carência, a abundância não teria significado.
Somos todos crianças na "escola da vida".
Durante nossa "infância", precisamos experimentar
para ganhar senso de r e a l i d a d e ...
O sofrimento é pano de fundo para que o bem seja notado.
Baseado na perfeição de Deus, a natureza nos ensina isso.
Basta olhar.
Não lhe parece que um Deus tão extraordinário, tão criativo,
que colocou tanta beleza, tanto perfume na simplicidade de uma flor, que enfeitou nosso mundo com um céu tão azul, um mar tão belo,
tudo para nos fazer felizes,
só nos destina à FELICIDADE e à ALEGRIA ... ( ?!?)"

A dor serve para nos levar aos cuidados da preservação.
É um alerta que nos adverte que algo não está bem.
Sem ela, não teríamos referencial.

O CAMINHO QUE O LEVARÁ À FELICIDADE
COMEÇA EM VOCÊ MESMO!!!


Trechos do livro:
" Pelas portas do coração "
Zibia Gasparetto

Palestra proferida por Genaura Tormin,
na Irradiação Espírita Cristã, em Goiânia Go.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

OBJETIVO



OBJETIVO
(Genaura Tormin)

Quero plantar o que aprendi,
Agradecer o que recebi,
Carpir o terreno em parceria,
Jogar sementes ao vento,
Reflorestar o pensamento.

Quero levar a alegria,
No solfejo do meu canto.
Por companhia quero
O encanto de uma noite estrelada,
O suave trinar de pássaros,
O remanso de riachos,
O cheiro de terra molhada,
E muitas flores em cachos.

O objetivo é
Alcançar distâncias,
Redimensionar valores,
E ver a semente vingar,
Banindo tristezas e dores,
Para tudo melhorar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

AUSTERO ANJO DA GUARDA


AUSTERO ANJO DA GUARDA
(Genaura Tormin)

Eis-me de volta às atividades policiais. Agora na Delegacia de Crimes de Acidentes de Trânsito. O trabalho é sempre a melhor das terapias. Mesmo humilde, dignifica o homem, devolve-lhe o sentimento de utilidade. É o bom combate, como disse o apóstolo Paulo.

Por carência de escrivães e material permanente, no início fiquei alguns dias sem função, apenas com a obrigação de marcar presença, o que me passava a sensação de preterimento. Entretanto outro delegado adjunto fora lotado ali. Formamos uma dupla à espera de condições para atuar.

Com o meu jeito extrovertido, brincalhão e, às vezes ousado, apresentei-me ao colega, dei-lhe boas-vindas, contei que era recém-chegada, estava ainda sem função, porém, recursos humanos e materiais estavam sendo remanejados para suprir a necessidade e dar-nos condições de trabalho, pois trabalho era o que não faltava. Mesmo com uma vida inteira doada ao mister de fazer polícia, não conhecia o delegado nem ele a mim, embora fosse veterano na classe.

Sinceramente, o doutor parecera-me ensimesmado, enclausurado, deixando transparecer o garbo nas poucas palavras. O corpo atleta e a tez moreno-queimada eram marcantes de sua masculinidade, emprestando-lhe bonito visual.

Como sua colega de trabalho, seria de bom alvitre que desenvolvêssemos uma relação amistosa, mas o reticente doutor sempre estava a ler jornais ou introspectivo num lugar qualquer. Passara-me a impressão de não lhe haver sido simpática, pesando-me a obrigação de revertê-la.

Nossas conversas eram, praticamente, um monólogo de minha parte. Não desisti. Falei-lhe de política, de trabalho, das pernas de aço e até de Pássaro Sem Asas, enquanto ele, simplesmente, meneava a cabeça em afirmativas ou negações. Até hoje nada sei do enigmático colega com quem trabalhei por mais de dois anos. Porém, devo-lhe gratidão e já o inseri no rol dos meus benfeitores. Esporadicamente, chamava-o de “Anjo da Guarda” e ele não sabia o porquê.

Num desses monólogos, contei-lhe de minha atuação na delegacia anterior quando agilizava minha tarefa e diminuía o trabalho aos meus comandados, deixando lá uma cadeira de rodas que me era trazida à porta do carro por um policial, por meio do simples acionamento da buzina, convencionado como código. Manifestei a intenção de exercitar o mesmo procedimento, tão logo estivesse em plena atividade, pois assim diminuiria o trabalho de ter sempre que tirar e pôr a cadeira no porta-malas do carro, uma vez que me conduzo sozinha.

Para minha surpresa, o colega respondera:
— Não creio que os policiais queiram se prestar a tal trabalho de bom grado. Nas primeiras vezes, até pode ser... Mas o certo é que eles terão vergonha de empurrar cadeira de rodas.

Senti como se tivesse levado um bofetão ou ficado nua em público. Olhei-me e vi-me paralítica. O sangue aflorara-me às faces e o nariz ficara feito um pimentão maduro. Controlei a reação e disfarcei o desapontamento. Juro que senti vergonha e medo de mim mesma. Mas ele tinha razão. Era a verdade nua e crua que eu nunca tivera a oportunidade de experimentar. Na delegacia anterior era titular, tinha sob a minha égide toda a equipe de funcionários que se debulhava em préstimos e atenções, fazendo-me querida. Em casa e entre amigos, pela mesma forma. Por isso parara no tempo e jamais havia atinado para tão grande dependência.

Foi aí que me lembrei das esnobes madames que não carregam sacolas ou embrulhos. E uma cadeira de rodas seria motivo muito maior de constrangimento, principalmente em público.

O doutor tinha razão! Apenas, estava sendo sincero e direto, banido da preocupação de agradar-me ou não — pensei atordoada, sem conseguir esconder os olhos marejados e o coração dolorido.

Escritura do tempo

Acuada pelos preconceitos,
Cavalgo no dorso da vida.
Rasgo sonhos para engendrar versos.
Alongam-se pelejas.
Cálida, ainda estou
A semear afeto e lágrimas.

Escritura do tempo,
Vou registrando os dias.
De instantes vazios
E certezas incógnitas,
Reconstruo a vida.
Teço a síntese de saudades fugidias,
Argamassa de sonhos,
E guardo no peito
Os retalhos do que sou.

No rosto,
O sorriso, a coragem
E o encantamento de viver.
Em estado de paixão
Tento superar as perdas
E o amor ainda se faz em mim.

Naquele dia, retornara a casa com mais uma preocupação: conseguir, eu mesma, colocar a cadeira de rodas dentro do carro a qualquer custo. Era a minha mais nova batalha. Havia driblado tantas outras, e por que não essa?

À noite, não conseguira conciliar o sono, pondo-me mais uma vez à procura de soluções para a esmagadora realidade. A voz do colega ficara gravada nos meus ouvidos e repetia-se sem tréguas: “... eles terão vergonha de empurrar cadeira de rodas.”

Amanhecera! Um dia lindo, meio peralta, exibindo um sol maravilhosamente brilhante que me acariciava as faces através da janela do quarto, bisbilhotando minha intimidade com feixes de raios incandescentes, feito colares de pedras transverberadas numa policromia indescritível. Alfredo acabava de chegar de mais uma noite de plantão. Sem nada comentar, tomei o elevador e fui até a garagem no subsolo.

Lá, o ambiente estava propício ao meu novo aprendizado. Não havia ninguém. Nem mesmo o faxineiro. Passei para o banco do motorista, tirei as rodas da cadeira, acomodei-as na poltrona traseira e tentei passar o seu corpo (da cadeira) por cima do volante, com a intenção de colocá-lo no assento do passageiro. Por mais que tentasse, o esforço era em vão. Não tinha equilíbrio e as forças estavam minadas com o peso da cadeira. Era como se uma formiga quisesse carregar um elefante. Não desisti. Permaneci ali, tentando, tentando, procurando o jeito, respaldada na afirmativa popular: “não é questão de força física, mas de jeito”.

Após três horas, voltara a casa com as vestes molhadas de suor e o rosto parecendo tampa de chaleira. Mesmo não tendo alcançado nenhum progresso, a minha determinação era ferrenha. Iria tentar tantas vezes fossem necessárias para conseguir o meu intento. Não podia subjugar-me ao corpo paralítico. A mente estava bem direcionada.
À tarde, no trabalho, não vi o colega delegado, mas começava a devotar-lhe gratidão.
Nas manhãs seguintes, os treinos continuaram cada vez mais acirrados e com efeitos proveitosos. Parecia que ganhava musculatura e força, mas quase sempre voltava com escoriações nas coxas, motivadas pelos parafusos da cadeira, além de danos materiais no volante, no painel do carro e nas minhas vestes.

Não podia perder a esperança. Lembrava-me de Martin Luther King: “Não podemos acabar com a noite, mas poderemos acender as luzes”. E eu esperava essa hora. Tinha que existir uma saída, uma luz. Até que encontrara o tão almejado jeito: sobrepus a traseira da cadeira sobre o batente da porta do carro e reclinei o banco do motorista, ficando quase deitada, quando me senti equilibrada e com força suficiente para levantar o corpo da cadeira, passá-lo por cima e posicioná-lo ao lado (a cadeira é compacta, não fecha em X, apenas o encosto dobra sobre o assento). Pronto! Havia conseguido! A persistência é mesmo o caminho para o sucesso! Eu havia vencido!!!!

Fiz tudo de novo para confirmar e voltei ao apartamento com o sabor da conquista estampado no rosto. Até uma vizinha que encontrei no elevador referira-se ao meu aspecto de felicidade. Nada comentei. Estava ainda sob o impacto da emoção. Acho que mereceria até um “Oscar” pela façanha. Não via a hora de fazer a demonstração para o Alfredo, os filhos, e, principalmente, no trabalho, quando esnobaria a minha nova condição igual a dos andantes: sem ajuda de ninguém. Que independência estava a experimentar! O coração estava em festa e mais essa vitória juntar-se-ia ao arsenal de minha trajetória pela vida.

Hoje, locomovo-me sozinha para qualquer lugar, sem ter de pedir favores ou ficar dependendo de terceiros. Realmente, Aristóteles Onassis tinha razão: “O homem só fracassa quando desiste de tentar.” O fracasso é companheiro das vontades moribundas.
À porta da delegacia, diante dos colegas, era motivo de felicidade fazer o meu “show” todos os dias, como costumo dizer ao colocar a cadeira no carro, dispensando ajuda.

Mesmo com tantas vitórias, lá no fundo da alma, batia uma saudade do tempo em que as conquistas eram outras e o caminhar era ato tão normal que eu nem me dava conta de sua importância. É, para sermos felizes é necessário que tenhamos sido infelizes antes. É o preço do conhecimento, da valoração. É lamentável que o caminho para tão importante aprendizado tenha de ser por meio da dor. O caminho das pedras...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

EXÍLIOS DOS DIAS


EXÍLIO DOS DIAS
(Genaura Tormin)

Célere, caminha a vida!
Tudo se transforma.
A silhueta ganha nova roupagem!
Em vez de viçoso botão,
É flor, agora voltada para o chão.

Persistem os enlevos do amor.
Mas faltam a magia, a fantasia,
O entusiasmo dos encontros,
E toda aquela alegria.

Em dificuldades lavrada,
A escritura conta a história de uma vida,
Anunciando o prenúncio da partida.

Tantos projetos em feérica harmonia!
Tantas primaveras acorrentadas agora
No frio exílio de cada dia.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

SIGO FIRME E RESOLUTA


SIGO FIRME E RESOLUTA
(Genaura Tormin)

Sou chama a crepitar na escuridão
Não me curvo, não me submeto.
Nessa cegueira, ostento o coração,
E arredia, não aceito cabresto.

A estrada é insana e longa,
Mas eu sigo firme e resoluta!
Na bagagem poucos acertos,
Pois o resto se resume em luta

A tramontana é o amor que me guia,
Além das armas que carrego na aljava,
Solfejo sempre um hino de alegria.

Enfrento tornados, escarpas e penedia,
Tentando encontrar o porto seguro,
Remédio eficaz para esta agonia.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

HOMENAGEANDO UMA AMIGA




HOMENAGEM A DRA. ZOÉLIA
(Genaura Tormin)


Sorriso terno,
Olhar tranqüilo,
Inteligência e muita simpatia.

Sua alma transcende o infinito
E a simplicidade encanta
A todos que a conhecem.

Vocês sabem de quem estou falando?

Sim, é de você, Dra. Zoélia!

E que bom homenagear
Uma amiga tão querida,
Uma semeadora do bem
Nessa Seara da vida.

Hoje é o seu aniversario,
Não podíamos esquecer,
Por isso estamos aqui
Para uma vez mais lhe dizer:
Gostamos muito de você!,

Sabe por quê?
Você têm sempre tempo para exercitar a bondade,
para sorrir, repartir ternura,
compartilhar vivências e dar espaço às emoções,
às saudades...

Você é uma pregoeira do bem,
perseguidora de sonhos,
cultivadora de flores,
admiradora de paisagens,
de entardeceres...
Uma incentivadora,
um exemplo a ser seguido.
Por tudo isso,
nós gostamos muito de você!

Fazer aniversário é sempre um momento especial de renovação.

Deus, na sua infinita sabedoria deu à natureza a capacidade de se enflorar a cada primavera, ornando os caminhos, embelezando a vida.

Também a nós, deu a possibilidade de recomeçar a cada ano, fazendo novos plantios para a colheita de novas primaveras, novos crescimentos rumo à perfeição.

Deu-nos, assim, a oportunidade de ver mais arco-íris, luares, espreitar estrelas, correr atrás das fantasias, construindo felicidade.

Fazer aniversário é ter a possibilidade de fazer novos amigos.

E um amigo é um aliado contra os perigos,
Um ombro disponível,
Uma luz na escuridão...

Divide as experiências,
as conquistas, as dores,
as culpas e os segredos.
Não perdoa nada,
mas desculpa tudo.

Um amigo cobra,
xinga, adverte e critica.
Mas empresta o colo,
a palavra, o sorriso,
a cumplicidade e o incentivo.

Está sempre junto na dor,
presente na alegria.
É causídico ferrenho na defesa,
embora a bronca venha depois.

Um verdadeiro amigo
não segura apenas a mão.
Enfrenta a solidão, o caos,
a depressão, o copo vazio e a paixão.

Vibra com o sucesso, e ampara nos fracassos,
indicando saídas, construindo caminhos.

"... amigos são testemunhas vivas de nossas vidas". Fazem parte de nossa história, e nunca se ausentam de nossas saudades. A cada lembrança nos vem a fotografia singela daquele amigo, em momento distinto, de um lugar do passado.

Amigos são muito mais do que momentos, são alianças que fazemos para a eternidade. Amigo é anjo, é luz, acalanto para o coração, estrela-guia quando nos perdemos no caminho.

Tudo isso, para dizer que você é uma amiga muito querida e tem lugar cativo em nossos corações.

Parodiando Cora Coralina, repito: “Você, Zoélia, é aquela mulher que faz a escalada da vida removendo pedras e plantando flores”. Seus ombros podem carregar o mundo. Realmente, você é aquela mulher que faz a vida valer a pena.

Fomos criados para escrever a nossa história, conquistar sucessos, aprender e ensinar novas lições...
Implanta-se assim a coragem para suportar dores, gargalhar a vida, plantar amores, colher flores e agradecer. Surgem novos motivos para sorrir, novas oportunidades para servir...

Fazer aniversário é poetar novos versos, sonhar outros sonhos, acreditar na vida, renascer para novos desafios que nos fazem crescer. E você sabe disso muito bem.

É uma mulher que, por méritos próprios, dignifica a nossa classe, abrindo caminhos para esse segmento social, que embora forme metade do eleitorado e da mão de obra brasileira, ainda é muito preterido neste País.

A postura íntegra, ilibada, franca e decidida, além da bagagem jurídica, vivencial e humana, fazem de você um ser humano especial, completo. Uma mulher guerreira!

O seu exemplo é transformador de vidas,
Farol na escuridão,
Alento nas agonias.

Aliás, a sua história de vida é uma cartilha de ensinamentos, um espelho que reflete pertinácia, bravura e coragem.

Embora as muitas dificuldades, próprias para forjar pessoas de caráter, não quis ser apenas casulo. Optou por ser borboleta. E alçou vôos conquistando o infinito. Enfrentou os bancos da universidade, graduando-se em ciências jurídicas.

O marido partiu precocemente para a outra dimensão da vida e, embora num corpo etéreo, com certeza, aqui está, encantado e agradecido, para lhe cumprimentar.

Após essa inesperada separação, você entendeu que estava só à frente da trincheira. Reforçou a fé e a crença em si mesma, e por concurso, ingressou no Ministério Público, tornando-se uma guardiã da Lei. Hoje, promotora corregedora, um grande incentivo para nós, mulheres, tão carentes de referências.

Precisava lutar! Ficara-lhe por legado: 3 lindas garotas que, por suas mãos de mestre, tornaram-se pessoas extraordinárias no meio social e jurídico, dotadas de elevados valores intelectuais e humanísticos, que já conquistam louros no palco da vida, fazendo-a ainda mais feliz, pois o sucesso dos filhos significa muito mais felicidade para os pais.

Preocupada com a inclusão social, com a sensibilidade do homem, enquanto caminheiro desta estrada, sabe perscrutar-lhe a alma, vendo-o além da sua farda de carne, pois o essencial é invisível aos olhos, é preciso buscar com o coração _ disse Saint Exuperi.

Uma amiga que, pelo espírito evoluído, sabe ouvir o inaudível, os sentimentos mudos, os versos silenciosos... Para ajudar, faz-se presente na hora certa, no momento exato. Com certeza, deixará para a posteridade o seu marco benfazejo, capaz de ajudar vidas.

E assim, querida amiga,

Num só pensamento, numa só voz, unimos os nossos corações e pedimos a Deus que a ilumine e abençoe, não só hoje, nesta data genetlíaca, mas durante todos os dias de sua vida, conservando-a entre nós, pois para você queremos sempre ser paz, ser alegria, ser amor...

Você é uma amiga leal, simples e justa.
Na sua vida, Deus está sempre presente,
cobrindo-a de bênçãos,
fazendo-a muito contente.

Parabéns, querida!


Homenagem a Dra. ZOÉLIA , pelo seu aniversário,
feita por Genaura Tormin no Castro’s Hotel, em Goiânia,

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

REFLEXÃO


REFLEXÃO
(Genaura Tormin)

Literalmente, estava paraplégica!
Uma vida de muitas batalhas, tentando reconquistar o que a vida me havia abruptamente roubado.

Nova vida, novas práticas e o coração esfacelado ante as conjecturas do nada.
Mas eu tentatava, agarrando-me com unhas e dentes.

Em casa tudo mudou.
Até os amigos mudaram. Tudo tão de repente!
A casa, agora, era visitada por profissionais diferentes, que me ensinavam coisas inusitadas, as quais o meu corpo inerte não conseguia aprender.

E eu sofria. Mas seguia resoluta e firme, pois poderia ser uma paraplégica no físico, mas já havia decidido que nunca o seria de mente, de alma e de coração.

E enquanto me deixava manusear pelo técnico, em silêncio, lembrava-me de uma reportagem televisiva, de caráter científico, em que cercearam a locomoção de um pequeno coelho que servia de cobaia a pesquisas experimentais, tornando-o paraplégico.

Com os olhos esbugalhados, querendo viver a todo custo, o pobrezinho, apenas com as patas dianteiras ilesas, arrastava seu pesado corpo desgovernado sobre a mesa do laboratório. Agora, como parecia com ele!

Mas a minha missão era menos digna: não me prestava a experiências para a consecução de antídotos ou descobertas beneficentes à humanidade. E não havia sido imolada. A paraplegia viera de graça, de presente numa noite de festa. Entretanto como queria viver! Tenho consciência de que o corpo físico nada mais é do que uma farda de carne que envergamos para cumprir o nosso desiderato.

Por isso a vida é uma curta viagem em que não se pode perder tempo. Até dos dissabores devemos tirar proveito. Quem sabe o coelho ensinava-me uma lição de resistência e crescimento. Teria que aproveitar a oportunidade. Por isso, mesmo depois de expirado o último fôlego de vida, ainda nos resta a oportunidade de servir.

Depois da morte do meu corpo físico, gostaria que todos os meus órgãos sãos fossem utilizados para, por exemplo, fazer pulsar um coração cansado; dar luz a olhos que nunca enxergaram...

Queria que até as mínimas partículas servissem de material de estudo aos futuros profissionais da área de saúde. Quem sabe para desenvolver a nanotecnologia, devolvendo a audição a quem nunca pôde ouvir uma música, o zumbido das abelhas, os refrulhos sonoros de um riacho, uma declaração de amor... Quem sabe, esses órgãos inanimados, essas partículas abandonadas, ainda possam contribuir para o estudo e o aperfeiçoamento da medicina, criando caminhos e mais saúde para todos. Gostaria que o resto, quando nada mais tivesse serventia, fosse deixado num lugar tranqüilo sob a terra pura, sem concreto, porque assim, ainda serviria de adubo para florescer um gerânio vermelho, símbolo de minha luta pela vida.

A ciência não conseguiu provar a inexistência de Deus. Ele existe! E eu acredito num Deus perfeito, do qual somos a criação. A alma não desce à sepultura, transcende à Casa do Pai. Daqui não levaremos nada, apenas o bem ou o mal que tenhamos praticado. Acredito que já vivemos muitas existências e viveremos muito mais outras. Elas agem em nós feito um processo lapidador, respeitando o livre-arbítrio.

A multiplicidade das existências no corpo físico não constitui apenas uma afirmação evangélica, mas uma verdade científica e filosófica, explicada pela Lei do Progresso, claramente estampada nas diferenças sociais, nas doenças congênitas, além de muitos acontecimentos atribuídos a fatalidades. E isso é necessário para que o espírito evolua, tendo por mestres a dor e as muitas experiências que, com certeza, o qualificará para o exercício do amor a si e ao seu próximo. Por isso este é um mundo de provações, próprio para o resgate de erros do passado. Ninguém reencarna sem uma cruz para carregar. É o que se chama de carma que pode ser de ordem física, moral ou financeira.

Com esse entendimento e partindo do princípio de que o Pai é justo, a aceitação do carma reverte-se em escadas para subirmos cada vez mais alto. Assim, aceitar a reencarnação significou aceitar a mim mesma. Significou a dura tentativa de relacionamento pacífico com o meu corpo paralítico.

LEVE, LIVRE & SOLTA!


Sejam bem vindos!
Vocês alegram a minh'alma e meu coração.

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Era uma luz no fim do túnel e eu não podia perder.
Era a oportunidade que me batia à porta.
Seria uma Delegada de Polícia, mesmo paraplégica!
Registrei a idéia e parti para o confronto.
Talvez o mais ousado de toda a minha vida.
Era tudo ou NADA!
(Genaura Tormin)



"Sou como a Rocha nua e crua, onde o navio bate e recua na amplidão do espaço a ermo.
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.

(Genaura Tormin)