PLANTIO

PLANTIO
PLANTIO
(Genaura Tormin)

Deus,
Senhor dos mares e montes,
Das flores e fontes.
Senhor da vida!
Senhor dos meus versos,
Do meu canto.

A Ti agradeço
A força para a jornada,
A emoção da semeadura,
A alegria da colheita.

Ao celeiro,
Recolho os frutos.
Renovo a fé no trabalho justo,
Na divisão do pão,
. E do amor fraterno.

domingo, 21 de outubro de 2012

A PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA




A PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA
(Genaura Tormin)

Tenho a responsabilidade de lhes falar, hoje, sobre um outro assunto. Sobre a pessoa com deficiência física, de quem sou lídima representante. Aquela, em que num dia qualquer da vida perde o direito de caminhar com os próprios pés, passando a fazê-lo com a mente, com o coração.

Viver é muito perigoso. E viver com uma deficiência física, mais ainda. Por isso, devemos ser forjados a ferro e fogo para termos condições de nos erguer quando a dificuldade bater. Mas o espírito sabe tirar proveito evolutivo das experiências adversas para convertê-las em ascensão. Ainda bem que o espiritismo é a grande esperança e o Consolador da humanidade encarnada.

Somos minoria. E como tal relegada a segundo plano. Somos rotulados de inválidos e a cadeira passa sempre a idéia de mendicância. Não há consciência popular valorativa, esquecendo-se, inclusive, de que, cristicamente falando, somos todos irmãos.

Graças a Deus, não estamos vivendo nos dias do médico alemão Josef Mengele - o Anjo da Morte, que sob o comando de Adolf Hitler, exterminava as pessoas com corpos imperfeitos, tentando estabelecer a pureza da raça ariana.

Quantos gênios existiram e existem em corpos imperfeitos! O inglês Stephen Hawking, com esclerose lateral amiotrófica, que lhe paralisou os movimentos, emudeceu-lhe as cordas vocais, é um testemunho perfeito, pois, mesmo assim, continua produtivo e é considerado o mais brilhante físico teórico desde Albert Einstein.”

Outro exemplo, aqui bem perto de nós, é o do Dr. Cláudio Drewes Siqueira, que ficou tetraplégico, quando ainda era adolescente, e mesmo assim, por méritos próprios, ascendeu aos cargos de Procurador do Estado de Goiás e em seguida ao de Procurador da República. Por meio de uma adaptação presa a um capacete, o competente Procurador folheia livros e processos, além de digitar suas próprias peças, elogiadas pelo excelente conteúdo jurídico. É um exemplo e a certeza de que o querer é poder. Tudo é possível quando a mente está ilesa e bem direcionada.

É raro vermos um deficiente ocupando um cargo público de comando. E quando isso acontece, ele terá de ser imbatível. Caso contrário, os pequenos e naturais deslizes, policialescamente vigiados, serão creditados à sua deficiência física, com o mero objetivo de torná-lo inválido.

É um marco da personalidade brasileira e do preconceito arraigado da maioria dos governantes, tão desinformados e mal preparados, que não sabem buscar, transformar, aproveitar, mesmo tanto tempo depois da teoria de Lavoisier onde: "...nada se perde, tudo se transforma".

A mídia, como formadora de opiniões, é a grande responsável por essa imagem tão negativa do deficiente. Fulcrada em desinformações, as novelas banem até a sua sexualidade, forçando-o, mesmo, a tornar-se um cadáver vivo.

É costume, também, mostrar a penúria, a fatalidade, a invalidez da pessoa com deficiência, e nunca a sua competência, o seu trabalho digno, o seu esforço para vencer barreiras.

Apesar de não sermos detentores dos nossos movimentos físicos, não precisamos da caridade pública e não devemos ser excluídos do direito de participar da vida do País, como cidadãos que somos. Ouso dizer que não se deve dar ao homem o que ele pode conseguir com o fruto do seu trabalho, sob pena de roubar-lhe a dignidade.

Precisamos lutar pelo reconhecimento da igualdade jurídica e pelo direito ao trabalho, máxima maior estampada na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Lutar, igualmente, pela acessibilidade ambiental, urbanística, requisito básico para que possamos viver com dignidade. É bom lembrar que o poder dos governantes emana do povo e em seu nome é exercido, pois somos uma nação organizada, tutelada.

Na área hospitalar, falta acessibilidade. Os banheiros não nos permitem acesso: as portas são estreitas, acontecendo por vezes de perdermos consultas por termos de retornar a casa para usar o banheiro, sem se falar do desconhecimento da Lei 10.048 de 8.11.2000, que nos garante atendimento prioritário.

Para executarmos uma tarefa, é lógico que precisamos dos apetrechos inerentes à sua feitura. E nós, paraplégicos, precisamos de pernas de roldanas para substituir o nosso caminhar. “É o faz de conta”. É a condição sine qua non para irmos à vida, para sermos produtivos.

Contudo, é muito triste depararmos com colegas deficientes, em cujas cadeiras de rodas há tarjas indicando em letras garrafais que foram doadas. Abomino tal conduta, a qual se enquadra como ato típico perfeito de roubo da dignidade.

E dói muito quando feito pelos governantes que apenas administram as receitas oriundas dos nossos impostos e têm por obrigação o soerguimento social.

Se um deficiente precisa de uma cadeira, tem de pagá-la com o ônus da humilhação. Fica mais cara do que uma cirurgia de grande porte, pois a ferida não sara e fica sempre à mostra para o escárnio dos que por ele passam.

É preciso que haja consciência, voz para denunciar deslizes que, por vezes, aleijam mais do que a própria deficiência, comprometendo a mente, o equilíbrio, a auto-estima e o desejo de viver.

Não queremos paternalismo nem diferenciação, queremos apenas respeito e igualdade de oportunidades para mostrarmos a nossa capacidade de conquista, de trabalho, embasados na célebre frase de Rui Barbosa: "... tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam".
Esse estado de coisas tem que mudar, e vai mudar! Temos que aprender a escolher os governantes.
Não obstante os muitos cerceamentos que sofremos na pele, impostos pela deficiência, temos que rebatê-los com uma só ação: CORAGEM!

Resta-nos exigir o cumprimento das leis. Necessário se faz um trabalho conscientizador que pode e deve partir do próprio deficiente e da sua família, estendendo-se à sociedade e governantes.

Eu abro um parêntese para endereçar uma menção de carinho ao excelentíssimo Governador, Marconi Perillo, rapaz jovem, cônscio de suas obrigações, que tem demonstrado sensibilidade, principalmente aos deficientes, com a construção do Centro de Reabilitação e Readaptação. Uma tecnologia de ponta que, com certeza, servirá de exemplo para outros Estados.

Referindo-me à política desenvolvida nos Estados Unidos sobre a reabilitação, acessibilidade arquitetônica e o trabalho do deficiente, gostaria de dizer que o retorno é de sete para cada dólar aplicado nesse sentido, pois tornando-o reabilitado, independente e produtivo, não só ele estará liberado para o mercado de trabalho, mas também a pessoa que o assistia no ambiente doméstico.

É um investimento social, uma vez que o deficiente deixará de ser um consumidor de políticas de previdência e assistência social para capacitar-se como produtor de receitas públicas, mediante o recolhimento de impostos sobre os rendimentos decorrentes de sua atividade profissional.

A vida continua. Ainda sou perseguidora de sonhos. As portas me fascinam. A vida ainda acontece inteira no meu coração. Acredito no amanhecer, no poder recomeçar a cada dia.

Sei que tenho um papel a desempenhar neste Plano, por isso tento ajudar a construir um mundo melhor, formando mentalidades, fazendo denúncias, cobranças, exigindo respeito a quem, num dia qualquer da vida, vê romper-se a "farda de carne", para dar início a uma vida de sacrifícios e desafios diários.

O avançado da hora se registra e eu espero haver plantado uma semente, que crescerá e renderá frutos formadores de consciência popular valorativa, capazes de melhorar a aceitação do deficiente na sociedade, além da afetividade e do respeito com essas pessoas que, no exercício da vida, caminham sem pernas ou de outras formas aparentemente dolorosas.
Muito obrigada!
Genaura Tormin



Palestra proferida por Genaura Tormin em 08.10.2003,
na Irradiação Espírita Cristã, em Goiânia-GO.
10 minutos.

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Era uma luz no fim do túnel e eu não podia perder.
Era a oportunidade que me batia à porta.
Seria uma Delegada de Polícia, mesmo paraplégica!
Registrei a idéia e parti para o confronto.
Talvez o mais ousado de toda a minha vida.
Era tudo ou NADA!
(Genaura Tormin)



"Sou como a Rocha nua e crua, onde o navio bate e recua na amplidão do espaço a ermo.
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.

(Genaura Tormin)