JANTAR DANÇANTE
(Genaura Tormin)
Ontem fui a um jantar dançante da associação de Delegados de Polícia. Sentada à mesa, ouvindo a seleção musical, por sinal, tão bem escolhida, veio-me à mente um fato, ainda recente, que me fez acirrar os meus conhecimentos como detetive. Aqui o narro a vocês:
Aprendi a conviver pacificamente com as amarras da deficiência. Não me reconheço no passado. Acho que sou uma nova mulher. Gosto-me assim. Consigo driblar dificuldades e isso significa muito para mim.
De todas essas dificuldades, a falta de sensibilidade é a que mais dói e a que mais deve ser observada.
Certa vez fui a um jantar dançante. Dias depois, minha família percebeu um enorme hematoma na minha região lombar, nível da cintura. Surpresa! Lógico, uma grande interrogação. Imbuindo-me do costumeiro papel de detetive de mim mesma, concluí que teria sido provocado pela dança na cadeira de rodas. Certamente, o cinto de metal formado de elos que eu usava naquela noite, provocara atrito nas protuberâncias da coluna vertebral. Hoje, danço sem o cinto de elos, mas importa-me muito os elos de afetividade que consigo ligar entre os meus leitores, entre amigos, entre as pessoas com quem desenvolvo algum diálogo. Minha meta é a paz interior e eu sei que a vida me aponta caminhos para isso. Como partícipe, sei que preciso dividir e a melhor maneira de pensar em mim, é pensar em todos. A felicidade coletiva necessita de coadjuvantes. Ela não pode existir sem esforços. E, com certeza, fiz-me recruta, estou alistada no batalhão desses servidores, por princípio, por convicção.
Não lamento o que fazia antes, mas fico satisfeita com o que ainda posso fazer. Acho-me perfeccionista e esmero-me na execução. Não sou narcisista, mas gosto de sentir o mérito da conquista.
Acredito em Deus como integração, por isso os meus retalhos adormecidos ganharão movimentos algum dia, quem sabe noutra galáxia.
Numa semelhança quixotesca, vou cruzando horizontes em vôos alados, impulsionada pelo reconhecimento e o carinho das pessoas que me cercam. O meu trabalho abre caminhos, cria consciência popular, valoriza seres humanos olvidados. E é isso que me gratifica. Vale por todos os salários recebidos. É o que posso fazer pelo meu irmão de barco, pela pessoa com deficiência física, geralmente, tão preterida neste País.
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