PLANTIO
domingo, 15 de novembro de 2009
MENDIGA POR UM INSTANTE
MENDIGA POR UM INSTANTE
(Genaura Tormin)
É preciso ter garra para enfrentar, pois, o preconceito é uma realidade que não podemos negar. Pouco se sabe sobre a nossa capacidade de trabalho, sobre o nosso direito à cidadania.
Ainda recente, inauguraram uma bonita padaria perto de minha residência. Numa dessas caminhadas (de scooter) para tomar um pouco de sol ou resolver algum compromisso, resolvi conhecê-la. Não conseguindo vencer o pequeno degrau, dirigi-me a um rapaz que me parecera ser o gerente e disse:
— Eu queria entrar aí, mas não posso por causa do degrau.
— Eu vou lhe dar um pedaço de pão — disse-me ele, solícito.
Imediatamente determinou a uma das servidoras que o fizesse, a qual, minutos depois, entregava-me o presente num saco de papel. Agradeci e coloquei-o no cestinho do scooter.
Claramente, percebi que, pelo fato de me encontrar num veículo próprio para deficiente físico e isso costumar passar uma ideia de mendicância, havia sido confundida, razão por que resolvi mostrar-me e executar um trabalhinho na seara da conscientização. Manobrei o meu esdrúxulo veículo e dirigi-me ao rapaz, que orientava um profissional que inspecionava a porta de vidro com defeito.
— Você sabe que porta de vidro estilhaça? É mesmo prudente que seja revista. O meu marido tem um consultório aqui perto, no prédio Aquárius Center, e a porta estilhaçou. Ele conseguiu a reposição porque o profissional ainda não lhe havia entregado o serviço. E é cara, sabia? — disse-lhe em tom conhecedor.
O rapaz olhou-me atento e retrucou:
— A senhora vai gostar do pão. É especialidade nossa!
— Com certeza! Faça uma rampinha, que serei sua freguesa. Virei aqui todos os dias.
Despedi-me, agradeci e saí. Ao chegar a casa, peguei o saco de papel e de lá retirei a dádiva: um pedaço de pão, tipo bisnaga, com uma fatia de queijo e uma folha de alface. Como sou meio gordinha, gostei por não conter manteiga ou maionese. Fiz um cafezinho e deliciei-me com ele.
De outra vez, fui conhecer uma boutique de carne, muito requintada, inaugurada na minha rua. As paredes espelhadas multiplicavam o ambiente e as vitrines exibiam as carnes, as mais diversificadas em variados cortes. Os servidores uniformizados indicavam higiene e bom trato.
Deixei-me ficar ali por alguns minutos, quando um senhor bonito, alto, bigode largo, bem vestido, saiu do interior da Casa de Carnes e veio me atender. Como estava apenas passeando, fiquei um tanto sem graça e simplesmente perguntei aleatoriamente o preço da carne em mantas da vitrine que eu estava defronte.
— É carne de sol e está em promoção — dissera-me ele.
— Será que não é muito salgada? — retruquei.
— Não! É especialidade nossa. Isto é picanha, minha senhora!
O preço, realmente, estava bem abaixo. Mas não havia saído para comprar carne. Hesitei um pouco, enquanto ele ainda esperava ao meu lado, não sei se num atendimento diferenciado ou preocupado com a minha presença no local. Para minha surpresa, usou da palavra e em tom educado dissera-me que me faria a carne pela metade do preço.
— Muito desapontada, pedi um quilo da carne, pois, por sorte, portava uma bolsinha que continha alguns trocados, praticamente moedas, que tive que juntar e recontá-las.
Em casa, botei-a no forno, e quando o marido chegou para o almoço achou a carne excelente, além de bem posicionada numa bonita travessa. Realmente dourada e no tempero certo. Também, tratava-se de picanha! Contei o ocorrido e o preço.
— Por que você não comprou uns dez quilos? Mesmo que tivesse que voltar aqui para pegar dinheiro ou cheque — dissera-me ele em tom de brincadeira, acrescentando que eu seria a compradora-mor da casa, a partir daquele dia.
Rimos muito, e mais esse episódio juntou-se ao arsenal de minha trajetória, comprovando que falta ainda muita consciência popular sobre as diversidades. Nossa estampa carrega o estigma do “coitadismo”, causando piedade, temor e quase nunca o respeito. É como se não fôssemos egressos da mesma sociedade.
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LEVE, LIVRE & SOLTA!
Sejam bem vindos!
Vocês alegram a minh'alma e meu coração.
Era uma luz no fim do túnel e eu não podia perder.
Era a oportunidade que me batia à porta.
Seria uma Delegada de Polícia, mesmo paraplégica!
Registrei a idéia e parti para o confronto.
Talvez o mais ousado de toda a minha vida.
Era tudo ou NADA!
(Genaura Tormin)
"Sou como a Rocha nua e crua, onde o navio bate e recua na amplidão do espaço a ermo.
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.
(Genaura Tormin)
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.
(Genaura Tormin)
Genaura,
ResponderExcluirQuantas vezes não passamos por isso, em todos os sentidos de nossa vida.
Somos ao mesmo tempo príncipes e princesas do etéreo e mendigos extremos e extremados da vida.
Somos palácio quimera e muitas vezes somos também tapera.
E se aquele que não vê adiante da cadeira o ser que ali está, na forma como é, ao menos lhe seja creditado o mérito da generosidade, da única forma, que talvez saiba expressar.
Que a sua capacidade de amor e compreensão, Genaura, assim demonstrada, sem se exaltar, seja a tônica para a conscientização plena e de mão dupla, sempre, que isso é o que aproveita à vida.
Abraços
Márcia Vilarinho