PLANTIO
domingo, 22 de novembro de 2009
DISCRIMINAÇÃO EXISTE, SIM!
DISCRIMINAÇÃO EXISTE, SIM!
(Genaura Tormin)
Certa vez, na delegacia, recebi um bilhete, encaminhando uma senhora que estaria tendo problemas com o marido para as providências cabíveis. Minutos depois, a vítima entrara no meu gabinete.
O problema referido era, apenas, uma questão doméstica de ajuste familiar, paciência, relevação, em que ambos mereciam ser advertidos.
À luz do meu entendimento, a vítima era a principal provocadora da situação. O caso não carecia de medidas policiais.
Aproveitei do ensejo para dar "uma de psicóloga ou assistente social", ensinando à pretensa vítima um pouco de relações humanas, convivência, práticas logoterápicas, para melhorar o relacionamento em família.
Pouco tempo depois, encontrei-me com a autora do bilhete e perguntei por sua protegida.
— Ela voltou muito triste. Disse-me que não conseguira falar com a senhora na delegacia. Encaminharam-na para outra pessoa, que talvez nem delegada fosse, pois nenhuma providência tomara, limitando-se a dar conselhos, botar "panos quentes" e falar de paciência, afetividade como se fosse uma pessoa evangélica — disse-me a autora do bilhete.
É um fato típico de discriminação e falta de cultura popular sobre pessoas com deficiência física. Tenho certeza de que se eu não estivesse na cadeira de rodas, não teria sido vista dessa maneira, pois, visualmente, encontrava-me num gabinete condizente com o meu cargo, além da consciência de que tenho postura, competência e respeito pelo meu semelhante.
Depois dessa ocorrência, adverti o pessoal do apoio de que cada pessoa deveria ser informada do nome do delegado que lhe daria o atendimento.
É tão marcante esse tipo de discriminação, exercido por pessoas de todos os níveis, que, quando passei a trabalhar nessa Delegacia, a moça contratada para os serviços gerais servia cafezinho em bandejas às demais colegas delegadas, acompanhado, é claro, do tratamento hierárquico e as formalidades da boa educação.
Ao contrário, entrava no meu gabinete sem bater, com uma xícara entre os dedos, a qual deixava sobre a minha mesa, sem qualquer aceno de cortesia. Quando me dirigia a palavra, chamava-me pelo nome de "coisinha".
É possível que, além do meu nome, desconhecesse também o meu cargo, uma vez que ele induz autoridade e respeito.
Tão logo me foi possível, interessei-me por ela, dando-lhe um pouco de afeto, informando-a de que gostaria de ser chamada pelo meu próprio nome, ocasião em que lhe contei sucintamente a minha história, gerando um pouco de calor humano, propiciando-me até auxiliá-la na compra de material escolar para os filhos.
Além disso, com o meu trabalho, provei a ela e aos que não me conheciam, que a pessoa com deficiência é uma pessoa normal, não obstante as rodas da cadeira, como era o meu caso.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
LEVE, LIVRE & SOLTA!
Sejam bem vindos!
Vocês alegram a minh'alma e meu coração.
Era uma luz no fim do túnel e eu não podia perder.
Era a oportunidade que me batia à porta.
Seria uma Delegada de Polícia, mesmo paraplégica!
Registrei a idéia e parti para o confronto.
Talvez o mais ousado de toda a minha vida.
Era tudo ou NADA!
(Genaura Tormin)
"Sou como a Rocha nua e crua, onde o navio bate e recua na amplidão do espaço a ermo.
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.
(Genaura Tormin)
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.
(Genaura Tormin)
Querida amiga
ResponderExcluirComo sempre seu artigo informa, declara, constata e conscientiza sobre o pré-conceito, que resulta em discriminação, e que deriva da falta de conhecimento sobre determinado ato ou fato.
O meu texto hoje aborda o estigma da cadeira de rodas, tentando demonstrar o que significa a visão da cadeira e o que significa o enfoque na pessoa que a utiliza.
Que bom podermos somar esforços no mesmo sentido.
Abraços e sempre parabéns pela clareza e propriedade de conteúdo.
Obrigada, amiga! Vc é um amor! Estamos juntas para defender essa bandeira.
ResponderExcluirBeijos da Genaura Tormin