UMA VOLTINHA AO PASSADO
(Genaura Tormin)
Bom dia chuvoso por aqui.
Traz-me o passado de volta, na fazenda.
Até o cheiro parece chegar-me às narinas.
Como a gente foi feliz naquele tempo!
A liberdade ao vento sibilante, pelos caminhos e atalhos, saltitava aos nossos olhos brilhantes, que criavam tanto encanto!
As manhãs eram sempre presentes de um Deus bom e acolhedor.
A vida é assim!
Tem as suas fases, os seus ciclos evolutivos para a confecção da criatura de Deus.
Hoje, eis-me em plagas tão distantes daquele cantinho, que se perdeu entre a neblina, nas ramagens da existência.
De tudo, restou-me apenas saudades!
Muitas saudades para relembrar tanta vida entre a natureza florida, grávida de flores e frutos, cor e essência.
Era a existência que, a cada dia, renascia no salão verde do milharal, com suas bonecas loiras e ruivas.
Tudo perece para renascer em ninhos na natureza!
No meu coração também renasciam tantos desejos, tantos projetos de futuro!
E é nesse futuro que estou agora, após tantos anos que nem mais sei mensurar.
Ao lado do beiral da janela do meu quarto, posso ver a manhã envolta em densa cerração.
Volto no tempo e me vejo passeando pelo meu passado tão longínquo.
Quantos anos se passaram!
Esvaíram-se por entre os meus dedos ávidos.
Eu cresci, principalmente, amparada pelos percalços, pelos tombos, pelos amores e sucessos que fizeram de mim esse gigante que sou hoje.
Era a bigorna forjando a obra, a ferro e fogo.
Por isso sou soldado de minha própria batalha e sigo no front.
Creio que tudo se transforma e passa! Um novo dia chegará radioso, cheio de soluções e encantos.
O que é registrado no coração, a alma confirma, Deus abençoa e a vida eterniza.
Nesse estágio, fui criatura e criadora! Decantei em verso e prosa tudo que vi. Fiz poemas, pintei e bordei o que desbotado encontrei.
Mas a minha melhor e mais bonita obra de arte foram os quatro filhos que pari. Minhas crias!
Significam razão de vida e a perpetuação dessa família que tivemos a honra de construir.
Meus ombros podem carregar o mundo!
De menina franzina, ingênua, à mulher guerreira ante às muitas intempéries, que reputo benfazejas. Amém.
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