PLANTIO
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
É PRECISO SEMEAR
É PRECISO SEMEAR
(Genaura Tormin)
Numa 2ª-feira, aconteceu-me algo inusitado.
Um senhor claro, robusto, com fisionomia que me lembrara o papai, encontrava-se triste, encostado à parede, na entrada da delegacia. Passando, dirigi-lhe um “bom-dia”. Senti vontade de atendê-lo em primeiro lugar, pela lembrança que me causara e por seu estado depressivo. Rodei a cadeira para trás e interpelei-o:
— O senhor vai tratar aqui, na Delegacia de Menores?
— Vou sim — respondeu.
— E qual é o seu problema? — voltei a perguntar.
Olhando-me de cima para baixo, como se estivesse a radiografar-me, o senhor trocou a morbidez por uma fisionomia austera. Comprimiu a testa, expeliu dois muxoxos e, como ainda esperasse, respondeu em tom agressivo:
— O meu assunto diz respeito somente à minha pessoa e ao Delegado de Menores. Não costumo contar os meus problemas para estranhos, ainda mais para uma aleijada.
— Tudo bem! — respondi e saí. Certamente, acordara com o pé esquerdo ou era a oportunidade para mais um trabalho na “seara”.
Menos de uma hora, o referido senhor estava à minha frente.
— Bom-dia! — disse ele.
— Bom-dia! Em que lhe posso ser útil?
— Posso me sentar?
— À vontade.
— Tenho um filho menor de idade que é toxicômano. Foi preso esse fim de semana. Já fiz tudo para tirá-lo desse vício, mas não adiantou. Viciou-se aos 13 anos. Mudamos daqui para o interior, onde ficamos por três anos. Tem uma semana que retornamos. Tudo voltou: a droga e a prisão. Vou desistir — lamentou.
— Não! Os pais jamais podem desistir. Se os filhos não precisassem de pai e mãe, nasceriam feito batata no brejo. Igual à planta. A responsabilidade dos pais é bíblica. Vou ajudá-lo.
Mandei pesquisar o arquivo e eis que o menor contava com passagens por uso de substâncias tóxicas, e agora, cocaína.
— Quem sabe uma clínica para desintoxicar? O senhor arranja a clínica. Para todos os efeitos, ele estará sendo internado pela delegacia. Mandarei levá-lo. Ele não ficará sabendo nem que o senhor esteve aqui. Isso, para preservar o diálogo e o respeito. Depois, em sã consciência poderá aceitar outros tratamentos.
Seu filho nunca deixou de usar tóxico. Como é o seu relacionamento com ele? O senhor sabe quem são os seus amigos? O senhor se preocupa se ele dorme ou não em casa? Já pensou em dar-lhe uma atividade responsável, mesmo em seu ramo de negócios? Ser pai é espinhoso! Será que o senhor tem sido um bom pai? Não tem culpa no cartório? Quase sempre o menor quer revelar uma insatisfação, uma carência, procedendo dessa maneira no mundo das drogas.
Vida é saber se relacionar; é ser enérgico quando precisar; é tratar bem, dialogar, ajudar, dar um sorriso, uma palavra de apoio, uma batidinha no ombro, um gesto de solidariedade, um bom-dia agradável... A propósito, ainda há pouco, uma deficiente física, uma aleijada mesmo, como o senhor disse, dirigiu-lhe a palavra, espargiu-lhe um sorriso, tacitamente lhe oferecendo ajuda. E qual foi a troca? Meu amigo, a mente continua a mesma, o coração muito maior. Continuo sendo gente do mesmo jeito. Com uma diferença: aprendi a discernir o bem e o mal. O sofrimento aparou-me as arestas. Ensinou-me a ver o ser humano pela essência, pela alma que não se encerra nessa caminhada.
Não continuei porque o austero homem chorava. Levantou-se, deu-me um beijo na testa, talvez o primeiro tão humilde e espontâneo de toda a sua vida. À tarde, telefonou-me dando o nome da clínica.
Não fiquei sabendo de mais notícias porque o menor não mais retornou à delegacia.
Será que o pai mudou de atitudes em relação ao filho?
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LEVE, LIVRE & SOLTA!
Sejam bem vindos!
Vocês alegram a minh'alma e meu coração.
Era uma luz no fim do túnel e eu não podia perder.
Era a oportunidade que me batia à porta.
Seria uma Delegada de Polícia, mesmo paraplégica!
Registrei a idéia e parti para o confronto.
Talvez o mais ousado de toda a minha vida.
Era tudo ou NADA!
(Genaura Tormin)
"Sou como a Rocha nua e crua, onde o navio bate e recua na amplidão do espaço a ermo.
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.
(Genaura Tormin)
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.
(Genaura Tormin)
As sementes do eu se chamam nós e justificam, em meu pensar, a criação e existência da sociedade, cuja função é a preservação de todos os seres, que sozinhos não passam de única semente incapaz de se proliferar. Assim soma mais soma mais soma mais soma, carinho, solidadriedade, ternura, algria, compreensão e amor são sementes que germinam e criam flores de raríssima beleza e perfume eternamente suave e delicioso que se interliga com o etéreo, produzindo, assim toda a alquimia da vida. Dessa forma a vejo, Genaura, com suas sementes, lançadas sempre em terras férteis, pois na medida em que as recebem é porque estão preparadas.
ResponderExcluirAbraços
Márcia Vilarinho