PLANTIO
sábado, 7 de novembro de 2009
MINHA FAMÍLIA
MINHA FAMÍLIA
(Genaura Tormin)
Sinto-me muito honrada pela família que tenho, restando-me o sentimento de missão cumprida e de muita satisfação. Todos são ótimos filhos. Sem eles minha trajetória não teria dado tão certo. Ganhei um grande problema físico que implica grandes amarras, mas, por retaguarda, construímos uma família maravilhosa, engajada, que me ama e não me castra as oportunidades. Pelo contrário, é um nascedouro de forças, incentivos que me fazem caminhar mesmo sem o uso das pernas. Com ela enfrentaria a guerra sem medo de perder. E isso é de importância vital. Talvez seja o segredo de todo o sucesso que tenho conquistado.
Com certeza, não gostaria de ser andante e ter uma família diferente. Estou realizada! Para mim significa um privilégio. Quantos passam pela vida sem formar uma família! Tive a felicidade de ser mãe dos melhores filhos do mundo. Lembro-me, com carinho, de cada travessura, de cada afeto, de cada aprendizado. O Fernando sempre me consultava ao escolher a roupa.
— Mamãe, esta camisa combina com esta calça?
Lindinho, o Fernando! Uma criança adorável, carinhosa, ordeira e preocupada conosco.
Aos cinco anos dirigira-se ao pai, ao despedir-se para a Escola:
— Papai, não precisa dar dinheiro pra gente comprar lanche! Guarde para você pagar suas dívidas!
Era tão pequeno que a palavra dívidas foi pronunciada de forma muito engraçada. Não posso esquecer a meiguice, os olhos lindos e tristes... Gostava de cantar e encantava a todos. Inundava de luz qualquer ambiente.
Certa vez um policial de trânsito nos abordara. Fernando tomou a defesa:
— Minha mãe é polícia, quero ver! Ela prende você!
Sorrindo, o guarda nos dispensou.
Garoto educado, trabalhador, ótimo em tudo. Um presente de Deus para a vida! Um anjo da guarda polivalente. Hoje um homem! Um lindo rapaz! Dono de todas as virtudes. Um bom filho, um bom colega. Para ele nunca há problemas, sempre soluções. Um espírito evoluído que tivemos o privilégio de chamar de filho.
Pedi-lhe para fazer a orelha da 4ª edição do Pássaro Sem Asas. Sempre que o lembrava da tarefa, ele me mostrava a sua orelha e perguntava:
— Mamãe, esta serve?
— Serve para puxá-la, caso você não me apresente a tarefa na atempação necessária.
Finalmente, a orelha ficou pronta. Linda! Chorei muito ao lê-la. Emocionou-me relembrar do tempo em que fiquei repentinamente paraplégica, causando ruptura tão grande na vida da família. O sentimento, com certeza, ficara registrado na cabecinha de cada filho, e agora, Fernando o transmitia com tanta perfeição, com tanta ternura, na orelha do meu livro.
Ainda há pouco, encontrei o rascunho de uma carta do filho Flávio, a qual me deixou feliz, ciente de que, mesmo por meio de uma interrupção, de uma grande catástrofe, conseguimos emergir e abrir novo rumo, novo caminho para reconduzir a família. Hoje tenho certeza de que as dificuldades, os sofrimentos bem processados transformam-se em adubo fértil para uma boa colheita. A perda nos passa sempre o sentimento de valoração e nos prepara para as novas aquisições.
“(...) Quando mamãe ficou paraplégica, eu tinha dez anos. De certa forma, não tinha maturidade para compreender a dimensão do problema. Foi duro. Tivemos que conviver com muitas dificuldades. Minha irmã tinha 11 anos. Era a mais velha e a mais responsável. Fomos forçados a amadurecer precocemente. Éramos muito pequenos.
Ainda me lembro dos meus dois irmãos menores, questionando por que mamãe não andava mais. Às vezes choravam. E eu também.
Na verdade, as dificuldades tentaram nos colocar em “xeque”. Para vencê-las tivemos que nos unir. Foi uma mudança brusca.
Hoje tenho certeza de que tudo isso serviu para ampliar a minha visão do mundo, a minha segurança diante dos problemas e o determinismo para resolvê-los.
Mesmo tendo a mãe paraplégica, tivemos uma educação baseada na união, solidariedade, honestidade, trabalho e muito espírito de luta. Mesmo pequenos, éramos todos os seus enfermeiros e o fazíamos com muito amor sob a orientação do papai.
Vejo minha mãe como uma supermulher e sempre que chego a casa o meu primeiro olhar é para ela. Até hoje, deito-me ao seu lado para ganhar carinho. Ela foi e continua sendo a minha confidente, a minha orientadora. Além de mãe, é grande amiga”.
Cada filho é uma individualidade à parte, ajudando a formar um só espírito-de-corpo em busca da unidade da família que, assim alicerçada, torna a vida uma maravilhosa aventura.
O Frederico é o último da prole. “A raspa do tacho”. Tem personalidade forte, caráter determinado, impulsivo, ágil, ligeiro, sabe o que quer. Por isso é sempre inteiro, verdadeiro, independente. Sabe perseguir os sonhos. Em tudo, usa a disciplina, a inteligência, os meios corretos, o bom senso para a vida conquistar. Porte elegante, sorriso altaneiro... Cultiva a fraternidade, carisma, crença e coragem. É um mestre em tenra idade! Dele, vêm os conselhos, o compromisso, a responsabilidade, a resolução dos impasses, a fórmula ideal para a felicidade.
A Lara é a primogênita de uma linda história de amor, que tem vencido as contingências da vida, as intempéries do tempo. É o elo de ternura que selou para sempre as nossas vidas, ensinando-me o fascinante segredo da maternidade. O nome, LARA, deve-se ao filme “Dr. Jivago”, que assisti várias vezes quando ainda solteira. Ainda me lembro dos poemas que Jivago escrevia à sua amada, embora fosse tempo de guerra. Os campos de girassóis, onde os poemas esgueiravam-se entre as flores, tocados pelo vento de Varikyno, aos primeiros albores da aurora, e ainda sob um céu encapelado pelos rigores do frio. Lara tem gênio forte, predicado das pessoas determinadas, inteligentes, guerreiras. Com ela aprendi o exercício do amor.
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LEVE, LIVRE & SOLTA!
Sejam bem vindos!
Vocês alegram a minh'alma e meu coração.
Era uma luz no fim do túnel e eu não podia perder.
Era a oportunidade que me batia à porta.
Seria uma Delegada de Polícia, mesmo paraplégica!
Registrei a idéia e parti para o confronto.
Talvez o mais ousado de toda a minha vida.
Era tudo ou NADA!
(Genaura Tormin)
"Sou como a Rocha nua e crua, onde o navio bate e recua na amplidão do espaço a ermo.
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.
(Genaura Tormin)
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.
(Genaura Tormin)
Num grande plano divino, por certo, elaboramos parte de nosso destino e, nessa linda família, não houve qualquer desatino, pois a união está feita em amor que suplanta todo vestígio de dor.
ResponderExcluirQue Deus os ilumine sempre e que o sorriso seja a tônica da doçura que mantém abertas as vias do relacionamento, em trilha de dupla mão.
Com muito carinho