PLANTIO

PLANTIO
PLANTIO
(Genaura Tormin)

Deus,
Senhor dos mares e montes,
Das flores e fontes.
Senhor da vida!
Senhor dos meus versos,
Do meu canto.

A Ti agradeço
A força para a jornada,
A emoção da semeadura,
A alegria da colheita.

Ao celeiro,
Recolho os frutos.
Renovo a fé no trabalho justo,
Na divisão do pão,
. E do amor fraterno.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O VALOR DO INCENTIVO


Eis mais um capítulo do me livro PÁSSARO SEM ASAS, um presente para os meus queridos leitores.

O VALOR DO INCENTIVO
(Genaura Tormin)

Eu e Alfredo estávamos fazendo curso de pós-graduação em Direito Penal e Direito Processual Penal com duração de dois anos, ministrado pela Academia de Polícia de Goiás. Era um avanço de nossa Academia que, além de preparar os seus delegados, abria-se aos bacharéis da Capital, mostrando o seu peso e a qualidade de ensino.
Naquele ano, fora eleita, por votação expressiva, membro da diretoria da Associação dos Delegados de Polícia de Goiás.

Convidada pela Academia, passei a lecionar Organização Policial para os cursos de formação de escriturários e motoristas que, no final, honraram-me com o título de “madrinha da turma”.

Eu “ia levando a vida ou a vida me levando”. Ombreava com os demais, esquecia a paraplegia, cumpria o meu dever e fazia do trabalho uma religião como o faço até hoje.

Era setembro, mês da primavera, e nós estávamos a caminho da Academia de Polícia para mais um dia de aula. Os flamboyant’s das ruas muito floridos, colorindo a vida. Era uma manhã linda, de céu claro, primaveril, quase sem nuvens. O sol permeava às vidraças, espargindo raios incandescentes. As malhas viárias, enfeitadas de transeuntes e de carros multicores, transmitiam encantamento, magia... Algo alentador, que não sei explicar. Tudo parecia mais alegre. Havia festa no ar e um aroma gostoso de flores, de vida. O vento sacudia as folhas dos coqueiros, postados nas ilhas divisórias das longas avenidas. Feito navalha, a saudade de um tempo ainda tão presente no meu sacrário de lembranças invadia-me os compartimentos da alma, cortava-me o coração sem dó nem compaixão. Parecia que me via andante, faceira, palmilhando a avenida, levada pelo gingado sensual que sempre me enfeitara o corpo, dando graça à silhueta de mulher.

A mente vagava em fantasias, quando nos defrontamos com o antigo prédio da Academia de Polícia. Ao entrarmos em classe, era a plateia em festa. Os alunos ouriçados seguiam a cadência de “parabéns a você”.

Na mesa, um bolo branco confeitado anunciava o aniversário do mestre, o Dr. Miguel Batista de Siqueira, então Superintendente da Academia de Polícia, depois Secretário de Estado da Segurança Pública e Justiça de Goiás. A sua bagagem jurídica, vivencial e humana sempre extrapolara fronteiras. É costume dizer que ele sempre fora o crânio da Segurança Pública, apresentando as suas melhores ideias.

Ao contrário de muitos, ele estreitara os laços de amizade comigo depois da paraplegia. Cumprimentava-me carinhosamente e emitia palavras positivas. Acreditava no meu trabalho, encampando a minha bandeira de luta. Costumava dizer que eu sobrepujava muitos delegados andantes. O elogio ao mérito de minha conquista era muito importante e impulsionava-me sempre ao desempenho, cada vez melhor, de minhas atividades profissionais. Não podia decepcionar tão querido amigo e já o inseria no rol dos meus benfeitores.

Queria demonstrar-lhe o meu carinho naquele dia. Entretanto não fiz uso da palavra. Pus-me a escrever uma poesia para o mestre, enquanto o Dr. José Nunes, agora meu colega de classe, dizia-me baixinho:
— Faça um discurso. Vá em frente. Você fala bem!
Lembrara-me da primeira entrevista. Trabalhava com o Dr. José Nunes e ele incentivava-me, dizendo que eu falava bem. Arredia, trêmula, faltava-me a coragem, temendo dar “branco” no cérebro. O grande amigo enchera-me de forças, e, assim, consegui vencer a timidez. Inaugurei entrevistas no rádio e, em seguida, na televisão. Passei a falar em público sem nenhum acanhamento. “Acredito que um amigo é sempre um espírito protetor que nos deixa de pé quando nossas asas não se lembram da técnica de voar”. É um timoneiro que nos substitui no remo quando o barco veleja à deriva.

O avançado da hora registrara-se e à poesia faltavam os últimos retoques. No dia seguinte, após o mestre postar-se atrás da mesa, evidenciei-me (já que não podia ficar de pé) e pedi a palavra:
— Ainda a título de comemorar o aniversário do eminente professor, Dr. Miguel Batista de Siqueira, que muito me honra com sua amizade e apoio, gostaria de declamar uma poesia de minha autoria:

FAROL

Era quadrado o bolo.
Branco como a neve.
Mensagem de amor
No teu aniversário.

Vinte anos,
De velinhas brancas,
Simbolizavam a fidalguia
Dos teus mais verdes anos,
Que se perderam no tempo,
Indefinidamente,
Fazendo-te imbatível
Em todas as idades,
Na silente projeção
De que o homem é mente.

A voz de mestre,
Como vento do leste,
Aculturou todos os discípulos,
Levando-os
A plagas de progresso e paz
No vergel da existência.

Qual farol,
À beira da estrada,
Vais impregnando de luz
O viajor.

Qual oásis,
Em deserto insano,
Vais saciando a sede,
Tornando promissores
Todos os momentos.

Mestre,
Irmão,
Não poderia esquecer
Tão grande criatura.

Grande pelo amor,
Pela dor,
Pela cultura,
Pelo sentimento
Que te fez da massa um dia,
Deixando-te o estigma
Do idealismo e da coragem.

E por essa data genetlíaca,
Nos versos que faço,
Não poderia mesmo,
Olvidar-te, Mestre!

A sala vibrou em palmas. O professor agradeceu emocionado. Mas era eu que muito tinha a agradecê-lo. Aquela demonstração era apenas parte de minha gratidão. O mestre a merecia. Por vezes, o sorriso, o incentivo, a mão amiga, a certeza de que temos alguém que acredita em nós, principalmente depois de uma guinada de vida igual à minha, valem muito, muito mais do que se possa imaginar. É fundamental para o novo alicerce, para a afirmação e o reconhecimento dos potenciais que se encontram na mente e não materializados na locomoção ou em aparências físicas como muitos pensam.

A mente é o órgão diretor e estando ilesa e bem direcionada, com certeza, estaremos inteiros, completos, abertos a todas as possibilidades, a todos os desafios. Precisamos, apenas, de oportunidades.
O Dr. Miguel é daqueles que lutam pela justiça e sabe ver o ser humano além de sua farda de carne. Sabe perscrutar-lhe a alma, a essência...

Especializando-me em conhecimentos jurídicos e aperfeiçoando-me no trabalho ia construindo o meu destino como uma profissional inusitada, diferente, pelo menos em visual. Ao lado desses conhecimentos, procurava reciclar-me na arte da vida: lia bons livros, exercitava a paciência, alimentava a fé e sentia-me uma estrela andeja, alicerçada na coragem de avançar sempre.

ESSÊNCIA LIBERTA

De asas quebradas,
A ave não pode voar.
O invólucro é prisioneiro,
Mas a essência é liberta,
Bandoleira...

Crescem-lhe asas perfeitas,
Imaginárias.
As peias se partem na amplidão.
Desatam-se os laços!
Ilimitado é o espaço
Para voejar versos,
Soltar a emoção
E sentir-se uma estrela andeja.

É muito importante a consciência de que não estamos aqui por acaso. A responsabilidade da caminhada é unicamente nossa e não podemos fraquejar. Somos seres gregários, cabendo-nos a compaixão pelo próximo, pelo menos o mais próximo.

É sempre bom reafirmarmos os nossos propósitos de fé nos valores e no exercício do amor.

“Sei que toda caminhada tem um destino e uma direção, por isso, devo medir meus passos, prestar atenção no que faço e no que fazem os que por mim também passam ou pelos quais, passo eu.

Que eu não me iluda com o ânimo e o vigor dos primeiros trechos, porque chegará o dia em que os pés não terão tanta força e se ferirão no caminho e se cansarão mais cedo.

Todavia, quando o cansaço houver, que eu não me desespere e acredite que ainda terei forças para continuar, principalmente quando houver quem me auxilie.
É oportuno que, em meus sorrisos, eu me lembre de que existem os que choram.
Que, assim, meu riso não ofenda a mágoa dos que sofrem.

Quando chegar a minha vez de chorar, que eu não me deixe dominar pela desesperança, mas entenda o sentido do sofrimento que me nivela, que me iguala, que torna todos os homens iguais.

Quando eu tiver tudo: farnel e coragem, água no cantil e ânimo no coração, bota nos pés e chapéu na cabeça, razão para não temer o vento e o frio, a chuva e o tempo, que eu não me considere melhor do que aqueles que ficaram para trás, porque pode vir o dia em que nada mais terei para a jornada. E aqueles que ultrapassei me alcançarão no caminho. Poderão, também, fazer como eu fiz, e nada de fato fazerem por mim, que ficarei sem concluir o meu trajeto.

Quando o dia brilhar, que eu tenha vontade de ver a noite, em que a jornada será mais fácil e mais amena.
Quando for noite e a escuridão tornar mais difícil a chegada, que eu saiba esperar o dia como aurora, o calor como bênção.

Que eu perceba que a caminhada só poderá ser mais rápida, mas muito vazia.
Quando eu tiver sede, que encontre a fonte no caminho.
Quando eu me perder, que ache a indicação, a seta, a direção, a estrela-guia.
Que eu não siga os que se desviam, mas que ninguém se desvie seguindo os meus passos.
Que a pressa em chegar não me afaste da alegria de ver a simplicidade das flores à beira da estrada.

Que eu não perturbe os passos de ninguém.
Que eu entenda que seguir faz bem, mas, às vezes, é preciso ter-se a bravura de recomeçar, voltar ao ponto de partida, tomar outra direção.
Que eu não caminhe sem rumo.

Que eu não me perca nas encruzilhadas, mas não tema os que assaltam e os que embuçam.
Que eu vá aonde devo ir e, se eu cair no meio do caminho, que fique a lembrança de minha queda para impedir que outros caiam no mesmo abismo.

Que eu chegue, sim, mas, ainda mais importante que eu faça chegar quem me perguntar, quem me pedir conselho, e acima de tudo, seguir-me, confiando em mim.”

A vida é cheia de quedas, de alegrias, realizações, muitas chegadas, onde tantos nos esperam cheios de sorrisos, de incentivos.

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Era uma luz no fim do túnel e eu não podia perder.
Era a oportunidade que me batia à porta.
Seria uma Delegada de Polícia, mesmo paraplégica!
Registrei a idéia e parti para o confronto.
Talvez o mais ousado de toda a minha vida.
Era tudo ou NADA!
(Genaura Tormin)



"Sou como a Rocha nua e crua, onde o navio bate e recua na amplidão do espaço a ermo.
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.

(Genaura Tormin)