DISCURSO DE INAUGURAÇÃO DA 1ª DELEGACIA DA MULHER EM GOIÂNIA-GO
(Genaura Tormin)
Relembrar é viver!
Uma volta ao passado significa um filme a se rebobinar nos meandros de nós mesmos. Em folhas amareladas, encontrei esse discurso.
Tempos idos, lembranças guardadas nas celas da memória.
Dra. Ludovina e eu fomos designadas para a recém-criada DELEGACIA DA MULHER.
Coube-me fazer o discurso de inauguração.
Relendo-o, acho que continuo a mesma, com as mesmas convicções e valores.
Esse escrito antigo nada tem a acrescentar a vocês, mas, numa divisão de afeto, senti vontade de publicá-lo nesse recanto de paz, onde me sinto muito à vontade, muito feliz.
Não tenho palavras capazes de traduzir o grande carinho que sinto por vocês, queridos leitores, queridos colegas!
DISCURSO DE INAUGURAÇÃO DA 1ª DELEGACIA DA MULHER EM GOIÂNIA-GO-1985!!
Hoje é um dia diferente para nós! Um dia festivo em que se inaugura em nossa Capital a 2ª Delegacia da Mulher criada no Brasil!
Uma vitória para a mulher goiana!
É bem sabido que desde a década dos anos 60, a mulher passa por uma fase de transição, empenhada na conquista de seus espaços, abandonando o modelo de doméstica, objeto sexual, fardo nos ombros do marido, declinado pela sociologia antiga, para reconhecer o seu próprio valor, ingressando, paralelamente ao homem na vida empresarial e pública, revelando-se de grande valia, sem prejuízo de suas atividades no lar.
Entretanto, há muito tempo essa tutela já se encontrava estampada em dispositivo da Constituição Federal do Brasil, nossa Carta Magna: "o homem e a mulher perante a lei são iguais".
Muitas discriminações existem contra a mulher, talvez pela sua disposição física, principalmente perante o marido que, por vezes, a faz de saco de pancadas, violando o seu direito de ser humano, reduzindo-a à condição análoga à de escravo, sem se falar nos crimes de lesões corporais, homicídios, estupros, posse sexual mediante fraude, induzimento ao suicídio, ao aborto, e outros mais elencados na parte especial da legislação vigente.
Constrangida, a mulher vítima de tais violências pouco tem procurado as Delegacias de Polícia, por saber que ali vai encontrar, como delegado, um outro homem e todo um corpo policial masculino a quem, por vergonha, princípios ou ameaças do próprio marido, não relatará com a exatidão necessária a intensidade da violência sofrida, continuando assim sua vida de calvário, muitas vezes até a morte, como foi o caso Maria Augusta, sabido de todos nós, e muitos outros por esse Brasil a fora.
Esta Delegacia, que ora se inaugura, destinada exclusivamente a apurar os crimes cometidos contra a MULHER, será o marco indelével de uma gestão responsável, atenta às necessidades de seu povo.
Com um corpo policial exclusivamente feminino, reciclado e treinado pela Academia de Polícia de Goiás, contando com delegadas qualificadas do quadro da Secretaria de Segurança Pública do Estado e comprometidas com a causa, temos certeza, Sr. Governador, que esta Delegacia se destacará no desempenho de suas atribuições em prol da ordem, da segurança e da paz social a um amplo segmento da sociedade que perfaz 52% do eleitorado brasileiro.
Pretendemos não só proceder à instauração de Inquéritos policiais, mas fazer concomitantemente um trabalho de orientação, apoio psicológico, conscientização e soerguimento do casal em litígio, defendendo também os valores axiológicos da família, mola mestra de uma sociedade sadia, respeitando, é claro, os ditames e rigores da lei. Por isso consta do efetivo desta Casa Policial, assistente social, psicóloga e médica legista.
Queremos parabenizar a louvável idéia da vereadora Maria Dagmar em propor a criação de uma Delegacia da Mulher em nossa Capital! Um sonho que passa hoje a uma realidade, encontrando para tal o respaldo irrestrito e solidário do Secretário da Secretaria da Segurança Pública, Deputado Frederico Jaime e do Governador do Estado Iris Rezende Machado, a quem igualmente parabenizamos agradecidas.
Obrigada
Genaura Tormin
(Delegada de Polícia da Delegacia da Mulher de Goiânia-GO)
Obs.: Fiquei paraplégica em março de 1982, portanto em 1985 eu já exercia o meu cargo do alto de uma cadeira de rodas, vindo depois a Constituição de 1988 que reguardou direitos à pessoa com deficiência física no mercado de trabalho.
Por isso eu Rendo gratidão aos espíritos evoluídos dos meus superiores da Secretaria da Segurança Pública e Justiça do Estado de Goiás que me conservaram no cargo, valorizando a minha competência, embora a natureza do trabalho exercido ali fosse, em princípio, um paradoxo à minha condição física.
Entenderam que o maior potencial está na disposição para vencer, além do preparo técnico-científico inerente ao exercício do cargo.
Naquela época, trabalhar numa cadeira de rodas era um fato estranho, quase inusitado, embora a deficiência constitua uma parte natural da experiência humana.
E o exemplo ficou para todos os órgãos públicos e privados.
Esse o verdadeiro caminhar, Genaura, demonstrando que a trilha pisada gerou estrada para muitos caminhantes.
ResponderExcluirLembremos que ser diferente é normal.
Beijos
Márcia Vilarinho
Genaura:
ResponderExcluirFiquei encantada com tudo que encontrei aqui.
Você é uma luz...
Um abraço carinhoso e minha admiração.
Beijo.