PLANTIO

PLANTIO
PLANTIO
(Genaura Tormin)

Deus,
Senhor dos mares e montes,
Das flores e fontes.
Senhor da vida!
Senhor dos meus versos,
Do meu canto.

A Ti agradeço
A força para a jornada,
A emoção da semeadura,
A alegria da colheita.

Ao celeiro,
Recolho os frutos.
Renovo a fé no trabalho justo,
Na divisão do pão,
. E do amor fraterno.

domingo, 14 de agosto de 2011

FALTA ACESSIBILIDADE


Falta acessibilidade
(Genaura Tormin)

Vencer barreiras arquitetônicas é um dos grandes desafios enfrentados no dia a dia da pessoa com deficiência física, principalmente a que deambula de cadeira de rodas.

Muitos obstáculos a vencer! Entretanto é necessário conquistar a liberdade de ir e vir, mesmo a duras penas, ingrediente principal que nos garante a inclusão na sociedade.

“Levanta e vem para o meio” é um o tema de uma Campanha da Fraternidade.
Embora o desafio seja a nossa meta para criar consciência popular sobre essas pessoas diferentes, há muito ainda a desejar. A acessibilidade, condição indispensável para que possamos viver com dignidade, é a principal, pois precisamos nos mostrar, exercitar o nosso caminhar. Enfim, viver, como cidadãos que somos.

Para ilustrar, vou contar uma pequena história:
Uma viagem à praia. Um resort à beira-mar adaptado às condições de uma pessoa com deficiência locomotora que não prescinda de uma cadeira de rodas. Tudo acertado com o agente de viagem. Ponte aérea, sol bem arregalado, num cantinho do céu, chamado felicidade.

No aeroporto o veículo estava à nossa espera. Um micro-ônibus, com porta estreita e a informação de que estava emperrada, tornando-se mais estreita, ainda. Não conseguia completar seu curso de abertura. Impossível uma contensão de forças másculas para rebocar-me ao seu interior. Não passaria pela porta envolta em braços.

O agente de viagem embarcou-nos num táxi, à nossa expensas financeira, com a promessa de ressarcimento, o que não aconteceu.

Mas, vamos lá, um problema vencido, característica indômita do brasileiro e do determinismo em reverter situações adversas.
Após o percurso de uma hora mais ou menos, eis-nos à frente de um majestoso resort, com lindas trepadeiras floridas que lhe enfeitavam a entrada.

Logo, o nosso quarto, bonito e aparentemente adaptado às minhas condições de cadeira de rodas. Via-se que passara por uma recente reforma. Amplo e aconchegante, com lindas cortinas e uma sacada, de onde se desnudava o mar bravio que se escondia manhoso depois dos coqueirais balouçantes, com cheiro de brisa e maresia. Um convite a uma estada feliz e renovadora.

O banheiro, cheio de pretensas adaptações distribuídas pelas paredes.
Na verdade, aos olhos do leigo, era possível distinguir-se pelo esmero, e quem sabe, pelo respeito aos seus reais usuários.

Que tristeza! Nada tinha a ver com as necessidades de uma pessoa com deficiência física. Poderia servir aos que andam de muletas, nunca aos que andam de cadeira de rodas.

Num quadrado, de um metro mais ou menos, com paralelas laterais de apoio, sem espaço ao lado para o posicionamento da cadeira de rodas, encontrava-se centrado o vaso sanitário. 

Era como se o seu usuário, num passo de mágica, ficasse de pé e desse meia volta para se sentar nele. Além disso, havia uma grande distância entre a parte posterior do vaso e a parede. Onde apoiaria as costas? Como fazer os manuseios sem equilíbrio? Qualquer descuido poderia cair para trás.

Impossível, mesmo, usar o sanitário do lindo resort. Precisava apoiar as costas para fazer os manuseios de assepsia e introdução da sonda vesical. Nem mesmo para tentar, teria condições.

O chuveiro, num requintado box, continha uma cadeira minúscula, sem braços, com o assento em tiras, dependurada numa alça de apoio, postada em desconexo com a altura e com os registros misturadores de água quente e fria.

Impossível acioná-los, pois ficavam às costas, numa posição bem acima do desejável. Como lavar os órgãos genitais nessa gangorra, que mais parecia uma balança, pois os pés não alcançavam o chão. Soltar as mãos da alça de apoio postada na parede, nem pensar. Um tombo seria inevitável. Lavar os cabelos? Também não.

Do pomposo banheiro, quase um salão de banho, restava ainda o lavatório, com secador de cabelos, torneira fotocélula (aquela que se abre com a simples aproximação das mãos) e um grande espelho à frente.

Não precisava observar muito para ver que também não podia acessá-lo. Encontrava-se sob o lavatório, um obstáculo - um cano - usado como cabide para as toalhas, impedindo, por sua posição e altura, o encaixe da cadeira de rodas para conseguir usá-lo. Nem lavar as mãos, eu conseguiria. O jeito mesmo era passar uma toalha molhada.

Improvisar para não chorar. Não havia outra saída. O que fazer? Estávamos ali para descansar, para ser felizes. Eu não podia ser o empecilho. Assim, sorriso pra lá, sorriso pra cá e a vida a passar.

“Faz de conta” é a ordem. Afinal o mundo não é adaptado para nós, embora existam leis que determinem esse procedimento.

Em tempo oportuno, tentei conscientizar o responsável administrativo do resort e, lamentavelmente, fui informada de que para toda aquela pretensa adaptação, fora contratada uma assessoria.

Ponho-me a pensar:
Como são desinformados, para não dizer irresponsáveis. Nem uma assessoria, paga para um trabalho especializado, empenhara-se em se informar, em pesquisar para entender as necessidades primárias de um ser humano diferente. Não houvera preocupação em fazer jus, honestamente, ao dinheiro que lhe fora pago.

Os reais usuários, jamais são consultados. É como se fôssemos objetos inanimados, indesejáveis. Por isso costumo dizer que “nada para nós, sem nós”. A gente sabe onde o sapato aperta e o que nos facilita o ir e vir tão diferente.
Essas obras parecem eleitoreiras, ou simplesmente, edificações para burlar as obrigações determinadas pela lei.

Somos um país em desenvolvimento, tão diferente dos países de primeiro mundo! Respeito é uma palavra meio desconhecida por aqui.

Genaura Tormin

Publicado no Recanto das Letras - Código do texto: T141308” e no blog www.genaura.blogspot.com
O jeito era poetar! E o poema gritou dentro de mim, talvez querendo me consolar. Dei asas ao veio poético e ele emergiu triunfal!

Alforria

Tenho que reinventar a vida
Para espantar o medo,
Aprisionar a agonia.
Vou decretar alforria
Para a solidão!

Não a quero por companhia!
Prefiro o vento, a brisa,
Mistério, magia,
E os enlevos de ventania.

Quero um vendaval de sorrisos,
Escancarados, atrevidos,
Para gargalhar a vida!
Quero esquecer a saudade,
Na conquista da alegria.

Tenho que encontrar saída,
Para não acelerar
O relógio do tempo.
Não quero a vida vazia!
Estou pedindo alforria!


2 comentários:

  1. Querida Genaura,
    Custa-me crer que ainda existam pessoas que usam este tipo de artimanha para atrair hóspedes para um resort
    que não possui condições de abrigar dependentes físicos, carentes de uma estrutura que ofereça um serviço diferenciado para este tipo de clientela.
    Imagino como vocês devem ter se sentido.É um absurdo que, nos dias de hoje, ainda se enfrente estes problemas. Penso que, no caso, deveria ser acionado o chamado Direito do Consumidor.
    Amada, continuas matando um leão por dia.
    Beijos no teu coração,
    Maria Paraguassu.

    ResponderExcluir
  2. Olá, passando pelo seu blog apenas pela foto de um unicórnio que me foi apresentada pelo google, resolvi olhar melhor as outras fotos e repentinamente veio uma vontade de ler algum de seus posts, esse me chamou atenção, "Falta Acessiilidade", pois sou estudante de arquitetura e lido com esse tema. Fiquei emocionada ao ver a falta de descaso com um deficiente físico, como se ter essa deficiencia fizesse com que não pertencesse mais a esse mundo, como se fosse algo não aceito. Fico entristecida ao ver que muitos empreendedores, arquitetos e engenheiros apenas mascaram as leis e ao invés de segui- las fingem que foram cumpridas. Infelizmente percebo que a maioria dos lugares age dessa forma impossibilitando ou dificultando a vida de cadeirantes, sinto um vazio ao ver como as pessoas se importam apenas consigo, não fazendo ao menos o esforço de melhorar a vida do outro. Espero de coração que as pessoas possam fazer melhor uso da vida dada a elas aqui na Terra, ao menos não excluindo as outras do convivio normal.

    Parabéns pelo blog, pelas mensagens, fotos. Você é uma guerreira, obrigada por existir!

    Fique com Deus. Abraços!!
    Sarah Folster Oliveira
    (sa_153@hotmail.com)

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Sejam bem vindos!
Vocês alegram a minh'alma e meu coração.

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Era uma luz no fim do túnel e eu não podia perder.
Era a oportunidade que me batia à porta.
Seria uma Delegada de Polícia, mesmo paraplégica!
Registrei a idéia e parti para o confronto.
Talvez o mais ousado de toda a minha vida.
Era tudo ou NADA!
(Genaura Tormin)



"Sou como a Rocha nua e crua, onde o navio bate e recua na amplidão do espaço a ermo.
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.

(Genaura Tormin)