ACREDITE, SE QUISER!
(Genaura Tormin)
Estava no Tribunal e o relógio marcava o horário da saída. Trabalho pela manhã. Ufa, como foi desgastante hoje! Muitos acórdãos para analisar! Vencemos mais um dia. _ pensei aliviada, com a satisfação do dever cumprido, pois o trabalho sempre foi um motivo de prazer para mim.
O tilintar do telefone à minha frente interrompeu o meu pensamento.
_ Diretoria de Recursos e Distribuição, bom dia!
_ Oi, mamãe! Sou eu! Não agüentei esperar para lhe contar: ESTOU GRÁVIDA!
Por um instante fiquei muda. A voz congelou-se. As mãos tremiam e o coração pulsava tão veloz que me parecia sair pela boca.
_ Que bom, filha! Mais um coadjuvante para integrar a família. Mais um anjo para habitar entre nós! Resta agradecer.
Ambas, ficamos mudas. Não havia palavras. A emoção excedia o limite de nossa sensibilidade.
Assim, conclui a ligação: _ Estou saindo. Logo nos veremos!
Ela, o marido e o Rodrigo (o primeiro filho) almoçaram conosco naquele dia. À mesa, não se falou de outra coisa a não ser a criança que estava a caminho. Uma centelha de amor para aumentar mais ainda os elos que nos ligam. Um presente! Uma dádiva de Deus! Um privilégio! Uma missão de alegria, que também significa responsabilidade.
E a vida passou a ter mais sentido.
Dias depois, acordei encantada com o belo sonho que tivera. Não via a hora de contar a todos. Fone no ouvido, quase não conseguia esperar. Um toque, dois toques..... Nada! Certamente, não estão em casa _ pensei.
Usei o celular.
_ Oi, Lara, tudo bem, filha? Eu vi a criança que Deus está nos enviando, tendo você como mãe. É uma menina de rosto redondo e olhos azuis. Eu a vi esta noite!
Sonhei que chegava à sua casa e ao adentrar à sala, ela estava num pequeno velocípede de ferro, como os de antigamente. Uma linda garota, de rosto redondo, olhos azuis que dançavam travessos, demonstrando ser inteligente e sapeca. Aparentava uns dois anos de idade.
_ Cadê a mamãe? _ perguntei.
Incontinente ela me respondeu:
_ “Tabáio”!
_ E a babá?
Gesticulando graciosamente com a mãozinha, completou com o linguajar reticente e próprio de sua idade:
_ “Foi imbola”!
Vi, com precisão, o seu pezinho acionando o pedal do velocípede, deslanchando pela enorme sala.
Não era o seu apartamento. Era uma casa. Certamente, a casa que vocês estão construindo no condomínio horizontal.
Nesse instante, chegou uma moça magra, aparentando uns 20 anos, que se fazia acompanhar por uma outra, possivelmente, uma colega. Sem cumprimentos, dirigiu a palavra à menina, em tom agudo e carinhoso :
_ Ana Carolina!!!!
Indignada, tentei admoestar a moça.
_ Como você deixa uma criança sozinha em casa? Pode se acidentar, pôr o dedinho na tomada, cair... Isso é uma irresponsabilidade! E eu vou contar para a Lara, viu? Sua irresponsável!
Acordei, ainda pronunciando esta última palavra.
Os meses foram-se passando. O sonho? Ah, esse, eu contei a todos!
Afinal, chegou o dia da feitura do exame “ultrassom” para saber o sexo da criança. REALMENTE, uma menina!!!! Mas, e os olhos azuis? Teríamos que aguardar o nascimento.
O enxoval passou a ter a cor rosa das flores, do amor, da espera... Passei a imaginar a alegria que em breve teríamos, ao tomar nos braços um novo ser humano, uma centelha do amor de Deus legado a terra. Que missão teria?
Em 4 de março último, nasceu a Ana Carolina do meu sonho, porém com o nome de ISABELLA nesta existência. Fiquei em estado de graça. Uma filha da minha filha! Um galho de minha árvore. A família ficou em festa!
_ E os olhos?
_ São azuis escuros – respondera-me a enfermeira que a trazia entre panos da sala de cirurgia.
Hoje, Isabella tem quase quatro meses. Uma criança sadia, perfeita, linda! A mesma personagem onírica! Olhos azuis, emoldurados pelo rosto redondo, cujo olhar vivo e travesso, faz-me lembrar de sua primeira visita ao mundo dos meus sonhos.
Acredite, se quiser!
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