REVISANDO PÁSSARO SEM ASAS PARA NOVA EDIÇÃO
(Genaura Tormin)
Tem episódios que me embargam a voz e eu sinto necessidade de dividir, contar, compartilhar...
Mas, nada de peninha! Tenho asas e as exercito por aí!
Eis o texto:
Tudo o
que fazia, com as dificuldades da primeira vez, era dolorido.
Abria-me sempre a ferida. Embora não externasse, sofria por dentro.
Meu avesso não queria confirmar a paraplegia, mas as dificuldades do
“fazer” jogavam-me no rosto a dura realidade.
Por isso queria
fazer o máximo de atividades diversificadas possível para vencer
logo a “prova de fogo" e tornar-me campeã de mim mesma,
assumindo com dignidade a minha condição.
Estava a construir uma
couraça para resistir aos embates.
Oxalá essa couraça se
transformasse em pérola, já que a pérola é o resultado de uma
ferida cicatrizada. Por vezes, o ego agradecia essa bravura.
Nessa
época, um dia, estando em casa sozinha pela manhã, planejei como
poderia tomar um banho.
Despi-me na cama, passei para a cadeira de
rodas, transferi-me para o vaso sanitário e em seguida passei para
uma cadeira normal, semelhante às de bar.
Com muita atenção e
cuidado, tentei dar pequenos impulsos com os ombros para chegar ao
box, quando a cadeira caiu para trás, lançando-me ao chão.
Mal
consegui desvencilhar-me dela, empurrando-a para frente. Não pude
fazer mais nada, nem sequer me arrastar até a cama. Não conseguiria
subir.
Fiquei calma. Tinha assumido o risco. Aquela manhã estava
fria, muito fria.
Consegui alcançar a toalha de banho que se
desfraldava no cabide à altura do meu braço.
Como não tinha (e até
hoje ainda não tenho) sensibilidade em mais de dois terços do
corpo, protegi as partes sensíveis, ou seja, ombros, braços e
cabeça, e deixei-me ficar no chão frio do banheiro. Pensei na
serventia dos meus braços ilesos, e agradeci.
Resisti à emoção
que me apanhara de surpresa.
Pena, por quê!?
Repreendi imediatamente
a estima ferida.
Tentei dormir.
Era o que de mais sensato poderia
fazer.
Cheguei a sonhar, quando fui acordada pelos filhos que
chegavam da escola com o pai.
Pensaram que eu estivesse morta ali no
chão.
A voz chorosa e agoniada do Fernando sobrepujava às demais.
Graças a Deus que o choro deles foi em vão. Estava vivinha!
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