Graça Lucena
UM ARQUIVO NO TEMPO
(Genaura Tormin)
Revendo velhos arquivos, deparei-me com esse desabafo.
Um e-mail a uma poeta-amiga que havia perdido o irmão para câncer. À época, minha irmã Graça seguia a via crucis dessa doença. Voltei no tempo e sofri. Como foi dolorida aquela fase! Eu, também, perdia uma irmã para tão maldita doença. Tempo depois dessa correspondência, ela se foi, após doloroso sofrimento.
Abri seu livro de poemas, CANTAROLANDO, e pude senti-la perto de mim, com aquela alegria que que significava a estampa de sua essência. Cada poema, uma lembrança, uma emoção. Juro que não pude me conter. Uma saudade sufocou-me o peito. Por que a gente não pode parar o relógio do tempo? Mas a vida é isso! Um dia vamos nós também.
"Zezé,
Eu soube com pesar da passagem do teu irmão. Junto-me a ti.
Doença maldita, o câncer!
A minha irmã, a Graça Lucena, luta com contra ela há 7 anos.
Sabe quem é ela?
Incentivei-a escrever
no Planeta. Hoje saiu o lançamento do seu livro, CANTAROLANDO, pela AVBL. Até
pensei que não fosse ver o livro. Saiu da UTI há 3 dias. Estava em coma.
Meu Deus, como a vida é frágil!
Nisso tudo, temos que ter coragem, pois, mesmo nos
preparando para essa partida, não aceitamos.
A gente fica inerme, fragilizada, feito fantasmas ambulantes, sem nada fazer.
Graças a Deus que a Graça está bem.
Foi a primeira vez que ficou em coma, e do nada.
Simplesmente tombou sobre o volante.
Levaram-na para o Hospital e pelo celular identificaram a
família.
Há muita solidariedade humana! Ainda bem.
Mas, como o ser humano é falho, frágil, carente!
Perdoe-me, por isso!
Vim para emprestar-lhe meu ombro, e estou usando o seu.
Meu Deus, meu Deus!
Mas, vc sabe tanto quanto eu, que a vida é efêmera!
Um sopro de vela!
Ainda bem que essa existência não é em vão. Aqui aprendemos,
evoluímos...
A alma transcende à Casa do Pai, que é a verdadeira morada
do espírito.
Sei que seu irmão era novo, encantado pela vida, pela filha,
pela mulher...
Mas, querida, chegou a hora, o momento exato. Quem somos nós
para questionar?
Não cai um fio de cabelo, uma folha de árvore sem a
permissão de Deus.
Vc sabe disso! Acho que tudo tem o seu porquê.
Aqui, há sempre uma lição a aprender.
Quantas vezes, fazendo uma retrospectiva avaliatória,
chegamos a conclusão que sem essa ou
aquela dificuldade grande que achávamos que os nossos ombros não
suportariam, não haveríamos galgado tanto crescimento, tanta descoberta
benfazeja, tanto amadurecimento...
A dor é buril,
forjando a obra, esculpindo a alma... Eu
sou um testemunho vivo disso.
A cada dificuldade, fico a pensar o que virá de bem.
Fico pensando que a morte também deve ter uma compensação
assim e muito, muito melhor.
Sei e tenho certeza de que não morremos, apenas trocamos de
farda.
Assim, outras missões esperam o seu irmão. Deixa-o ir em
paz!
Ele continuará velando pelos que ama aqui. Pode ter certeza.
Nós é que somos tão pequenos e egoístas que não entendemos a
vontade de Deus.
A vida, ele nos deu! Ele nos tira quando chega a hora!
Resta agradecer e não lamentar.
Agradecer o tempo que Deus permitiu que ele ficasse para ver
a filha, conviver mais um pouco com a família.
Lembra-se?
Acho que dessa época em que compartilhamos com vc essa fase
tão doída, passaram-se uns 2 anos, não?
Zezé, falei tanto!
Nessas horas, todas as palavras tornam-se arcaicas,
obsoletas...
O momento é duro e eu sei disso.
Talvez o silencio, o estar perto sem nada dizer, fosse o
melhor.
Mas, na virtualidade,
não há esse meio termo.
A escrita significa o sinal da nossa presença, o tamanho do
nosso afeto.
Assim, querida, vamos em frente!
Emprestar esse afeto, esse ombro amigo, aos que ficaram.
Há todo um caminho a palmilhar!
Beijo grande.
Fica com Deus.
Genaura Tormin
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