ETA TORCEDOR APAIXONADO!
(Genaura Tormin)
O futebol é, praticamente, o maior lazer dos homens. E de muitas mulheres também, ora! A paridade caminha a passos largos. A mulher está mostrando a cara, demonstrando a que veio. Já há times exclusivamente composto por mulheres. O futebol ganhou o mundo, encantando sempre e propiciando progresso.
Há os aficionados ao timão, bem pronunciado, com palavras de paixão. Muitos se deslocam de longe para assistirem ao seu time jogar. Vale qualquer sacrifício e dinheiro.
E, para incrementar o assunto, vai aí um causo que vale a pena, pela obstinação desse torcedor.
O seu time estava escalado. A expectativa e a adrenalina corriam soltas. Jamais poderia faltar a esse confronto. Nem pensar nisso! Acontece que, como a vida não avisa, o torcedor de quem estamos falando encontrava-se colostomizado. Acabara de sair do hospital. Uma dessas cirurgias em que o “foronfonfon” precisa ser preservado para garantir o sucesso de uma intervenção de retirada de parte do intestino. Assim o excremento passou a ser coletado por meio de um bem feito orifício na barriga, que possibilita o escoamento desse produto numa bolsa transparente. O “foronfofon” fica de férias, sabe? Uma trapaça do destino. Quem sabe um teste para ver se o cabra é macho mesmo! Aguenta o baralhado.
Mas o rapaz, sob nenhuma justificativa, abdicava de ir ao Estádio. O que fazer? O jeito era acompanhá-lo. Não se podia prevê o futuro. Esse, a Deus pertence. Remorsos não se coleciona, pois mais vale um gosto do que um caminhão de abóboras, diz o ditado popular.
Tudo preparado, após muitas recomendações e aparatos de proteção. Na verdade as advertências eram principalmente quanto ao vexame que poderia estar exposto.
E lá se foi o moço, devidamente escoltado. Uma comitiva de solidariedade. Paramentado a caráter, com a camisa do Verdão da Serra, o boné, o radio... O entusiasmo era visível no rosto magro, ossudo e pálido, fruto da recente cirurgia, numa estada de alguns dias num recinto hospitalar. Além disso mais outros apetrechos juntavam-se à sua indumentária. Uma bolsa preta, onde se escondia a colostomia, ou seja, a bolsa de merda. Do outro lado, mais outra bolsa preta camuflava o coletor que recebia sangue rejeitado pelo organismo, por meio de um dreno, procedimentos inerentes ao sucesso do tratamento.
Já no Estádio, sentou-se na arquibancada, sob os holofotes que lhe permitiam uma visão privilegiada. Ufa! O coração não se continha, na certeza de que seu timão ia fazer bonito e botar o adversário debaixo do braço.
A hora chegara. A bola deslizou faceira pelo gramado. A princípio meio tímida. Já não era a jabulani, pois estava em terras brasilianas. O Estádio estava ouriçado. Muita expectativa. A gritaria era geral. Avante, vamos lá! De vez quando se ouvia alguns palavrões em coro.
O Verdão era o favorito e a torcida acompanhava atenta. Jogo duro, diziam todos. Dois grandes adversários bons de bola e a decisão do campeonato.
Todos atentos ao espetáculo, eletrizados pela emoção numa torcida equilibrada. O primeiro tempo caminhava para o final, apenas com jogadas a quase gol, impedimentos, bola na trave, tiro de meta, escanteios e, algumas mancadas, o que é natural. Finalmente, esvaíra-se o tempo e o placar bem iluminado registrara 0 x 0!
O nosso torcedor aproveitara o intervalo para comentar ensimesmado cada lance do primeiro tempo, totalmente esquecido das bolsas que acompanhavam à sua vestimenta. Inconformado, ele gritava: não fizemos gol por que o juiz é ladrão! Ladrão! Sentado atrás, um adversário interrompeu: _ dá sossego corretor! Essa você não leva!
Talvez o apelido fosse por causa das duas bolsas pretas a tiracolo. O certo é que o nosso torcedor era agora o CORRETOR, mas poderia ser ENSACADOR. Esse apelido também faria um bom sentido. O certo é que ele estava ali, esperando a vitória do seu Verdão.
O cronômetro anunciara o início do segundo tempo. Ufa!!
_ Temos que levar! Vamos Verdão, gritara o CORRETOR, erguendo-se da arquibancada.
A emoção tomava conta do Estádio e o primeiro gol, para surpresa do CORRETOR, fora do adversário.
Nesse clima, o gramado entendia os chutes. Acirrava-se a disputa e a ansidade também. A adrenalina e o otimismo evidenciavam-se nos gritos e no suor excessivo dos rostos eletrizados. Enfim, foi marcado um sofrido gol do Verdão. A torcida não deixou por menos, hasteando sua bandeira rumo ao céu. O nosso personagem era só alegria e apostava na virada.
Já nos descontos da fase final do jogo, a “redondinha” invadira o gol, passando sobre a cabeça do goleiro, que não a conseguira driblar. Gooooool! A plateia ecoou em gritos. O Verdão ganhou! O placar anunciou o fim o jogo. 2 x 1 para o Verdão! Eta timão porreta!
O torcedor, protagonista deste conto, de um salto subira na arquibancada, numa posição de herói. A alegria escapava-lhe pelos poros. Os olhos brilhavam e os gestos acompanhavam a sua satisfação.
_ Eu sabia, eu sabia! _ gritava ele! Confio no meu time!
Nem parecia um paciente colostomzado. Esquecera-se disso. Suspendera as bolsas, acima da cabeça, que abruptamente se desconectaram dos orifícios. E aí....
Meu Deus! Fora uma chuva de merda e de sangue! O fedor exalava, misturando-se ao suor.
Alheio a tudo, ele continuava empunhando as bolsas, agitando-as como se fossem bandeiras hasteadas. As reclamações misturavam-se aos gritos de vitória.
_ Merda pura! _ gritaram alguns.
_ Para vocês respeitarem a supremacia do Verdão, retrucara o corretor, voltando-se para trás, só se dando conta quando levou umas bofetadas.
De lá saíra graças à proteção dos companheiros e, ainda sob a guarda policial que se fizera presente no local. Protegido, fora direto para o hospital a fim de refazer as conecções das bolsas e alguns outros reparos. Embora haja provocado uma chuva de merda, o torcedor era só FELICIDADE! O seu timão ganhara e isso lhe bastava.
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