CHEGOU A HORA DE IR
(Genaura Tormin)
Numa retrospectiva de mim mesma,
do alto de 70 anos de existência, alicerçada pela minha abençoada cadeira de
rodas, revejo a caminhada e agradeço!
Tudo
me veio na medida certa e no tempo exato.
O
Feitor da Vida sabe o que faz!
Talvez
se não tivesse sido assim, não teria tido tantos sucessos e as empreitadas não
significariam conquistas no pódio de tantas vitórias.
Um
projeto bem sucedido! E não fui eu a arquiteta. Tudo chegava a seu turno,
galopando em dinossauros ou burrinhos. E eu entendia o tamanho do esforço que
haveria de fazer. Aprendi a ler as entrelinhas, bordadas por frases
construtivas, nas encostas de tantos caminhos. Eu os segui!
Os
motivos, pequenos ou grandes, eram tão convincentes para alavancar essa
indômita vontade de viver que sempre me estampou o ser.
Aprendizados,
sucessos e desafios mesclaram-se em todas as jornadas, fazendo-me sempre à
prova de bala! E essa camisa de força nunca se apartou de mim! Eu a ostentarei
até o fim.
Deus,
família e trabalho foram sempre os meus melhores motivos. A razão de minha
estada por aqui!
O
ciclos foram-se encerrando para que outros tivessem lugar.
É o
exercício da vida.
O
trabalho foi sempre a minha religião e o maior mestre.
Novo
ciclo se exibe agora garboso!
Acabo
de ingressar no rol dos aposentados, companheiros de 3a. Idade!
Preciso
domar esse meu coração valente!
Preciso
aceitar e me despedir do meu oficial trabalho! Chegou a hora!
Finalmente,
uma palavra de agradecimento e um preito de saudade:
Queridos
colegas:
Procurarei
não ser prolixa para que os sentimentos não abram as comportas dos meus olhos,
tão bem tarameladas para aqui estar.
Cheguei!
Avalio
o caminho, revejo os pés e no calendário do tempo, confiro os 70 anos de existência
feliz e bem vivida, dos quais 51 anos ininterruptos de vida pública dedicada ao
meu País.
O
espelho ainda me fala de sorriso, otimismo, alegria e alguma beleza.
Isso,
porque tudo que fiz foi sob o comando do amor, da qualificação, da satisfação
do fazer e do respeito ético.
E
eis que chego neste final de estrada, com o sentimento de missão cumprida!
Mochila
às costas, diante de vocês, para um abraço,
um agradecimento, um até logo ou um
até breve.
Chegou
a hora de ir! Não estranhem se acaso eu chorar.
Egressa
de um concurso para Analista Judiciário do TJDFT, aqui estou há 21 anos.
Foi
um tempo de paz, de crescimento, de trabalho para que a prestação jurisdicional
chegasse em tempo célere ao jurisdicionado, em que eu me senti feliz, contente,
contribuindo com a Justiça do Trabalho do meu Estado.
Durante
todos esses anos integrei-me bem às equipes, irmanando um só espírito-de-corpo,
pois jamais me subjugo às subserviências em busca de protecionismo sob o álibi
da cadeira de rodas que ocupo há 34 anos.
Ela
não me posterga, pelo contrário, enobrece-me!
Convida-me
ao desafio.
E
eu gosto disso.
O
nosso Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, situado em Goiânia-GO, onde
tive o prazer de servir durante todos esses anos, potencializa os recursos e
tecnologias assistivas, visando à plena acessibilidade das pessoas com
deficiência.
Isso
se chama respeito, inclusão.
Nunca
me senti diferente, discriminada.
Acredito
que não há discriminação que resista à competência.
Não
é necessário paternalismo nem diferenciação, apenas respeito às leis e à
célebre frase de Rui Barbosa: “... tratar igualmente os iguais e desigualmente
os desiguais na medida em que eles se desigualam”.
Mas
agora chegou a hora de ir.
Muitas
saudades levarei.
Lembrar-me-ei
de todos os companheiros de labor, com quem aqui convivi.
Essa
linda história de trabalho neste Tribunal será um marco de saudade nas celas de
minhas recordações no acalanto dos dias.
Mas
a história ainda não acabou. Conotativamente fui formiga a vida inteira, agora
vou ser cigarra: cantar a vida, bordar horizontes, irmarnar-me às asas dos
pássaros e rever prados, campinas e montes, solfejando a lira dos poemas meus.
Nunca
me esquecerei do tempo que aqui servi como formiga e fui tão, tão feliz.
Esta
Corte de Justiça continuará minha também.
Os
Camaradas-formigas terão um lugarzinho cativo no meu coração.
Mas,
agora, adeus!
A vida vai continuar!
Serei uma caçadora, uma ave a voejar caminhos, procurar galho para fazer outro
ninho!
Agora vou ser cigarra.
Vou cantar!
Vou deixar Jorrar meu
canto pelos caminhos por onde eu passar.
Meus poemas ficarão para a posteridade!
Minha vida, decantada em prosa e verso alentará pessoas,
restando assim,
ainda um pouco de mim.
Hasta luego!
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