PLANTIO

PLANTIO
PLANTIO
(Genaura Tormin)

Deus,
Senhor dos mares e montes,
Das flores e fontes.
Senhor da vida!
Senhor dos meus versos,
Do meu canto.

A Ti agradeço
A força para a jornada,
A emoção da semeadura,
A alegria da colheita.

Ao celeiro,
Recolho os frutos.
Renovo a fé no trabalho justo,
Na divisão do pão,
. E do amor fraterno.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A CONCEIÇÃO DE MURILO


      
A CONCEIÇÃO DE MURILO
(Dom Augusto Álvares da Silva)

Já não era uma criança, um maranhal de fios,
Crivava-lhe a fronte cismadora e rude,
Onde uns olhos profundos, tépidos, sombrios
Punham tom de mistérios e índice de virtude.

Desde muito era visto andar pelas esquinas,
A olhar curiosamente a turba circundante
E até fazer parar donzelas e meninas
Para mirar-lhes de perto as linhas do semblante.

Teria enlouquecido? O Rei crente e piedoso
Ordenara-lhe um dia a execução
Do seu desejo ardente: um quadro primoroso,
A cópia fiel da Imaculada Conceição

Por isso é que ele andava inquieto,
Fitando a todo mundo, olhando a toda gente,
Para ver se achava enfim, concretizado ao vivo
O modelo ideal que brincava-lhe na mente.

Esta? Não serve! Aquela? Causa pena vê-la!
Que angústia se encontrava essa alma torturada,
Por não achar nenhum pálido modelo,
Que pudesse traduzir uma alma imaculada.

Junto à prisão do Estado, em pedras úmidas
Das ruas de Madri, o sol já ia posto,
Uma pobre menina, o pranto escondia
Na noite sem véu a aurora do seu rosto.

Murilo aproxima-se delicadamente:
Por que choras assim? Levanta-te! Sê forte!
Ela volveu os olhos e disse simplesmente:
_ Meu pai, senhor, está preso ali... 
Está condenado à morte!

Ao contemplar desnuda, a fronte peregrina,
O artista até estacou e arrebatado vai,
Tomando-lhe pela mão, dizendo-lhe: menina,
Anda, vem comigo e eu libertarei teu pai!

Meu pai, senhor, é mouro, e o Rei nos persegue.
É bárbaro e cruel apesar de cristão.
Dos nossos, nenhum que lhe foi um dia entregue,
Senão para morrer saiu dessa prisão!

Menina, vem comigo! Eu juro! A liberdade
Será dada ao teu pai, herege ou criminoso!
Pois o Rei que dizes mau e afeito à crueldade,
Tem sangue espanhol, ardente e generoso.

Vem!? Vamos, partamos depressa!
Que o teu pai será livre, essa esperança é fato!
Porque o Rei cumprirá fiel a sua palavra
De dar-me o que pedir em troca de um retrato.

Sim, o Rei prometeu, se eu pintasse a gosto
A Conceição sem mancha, espórtula avultada,
E criança, tu tens no rosto,
Os traços mais fieis de uma alma imaculada.

Anda, pois! E ela foi... O artista
Toma diante de si a cabeleira loura, em ondas soltas,
O olhar fitando o céu, e as mãos em cruz no peito,
Quando a murmurar: Então meu pai não volta?!

Quando tudo acabou, nervosamente ufano,
Tomou-a pela mão e alçando a voz lhe disse:
_ Agora vem comigo, ouviste?
O soberano garantiu-me pagar 
O preço que eu pedisse.

Quando chegaram lá, era o Palácio em festa:
Clero, nobreza e povo, a fina flor da Espanha,
Em meio à exposição de um quadro novo,
Emprestam todos, agora ali, solenidade estranha.


Ia-se inaugurar a Virgem de Murilo,
Quando um Oh! de repente, em meio à sala estoura!
Estava junto ao pintor, impávido e tranquilo,
Inquieta e perturbada, a pobrezinha moura!


Nisso, ergue-se a cortina e esplêndido aparece
O retrato fiel da moura ali presente.
O olhar fitando o céu, mimosa boca em prece,
Onde brinca um sorriso ingênuo, inocente!

Nisso, corre a cortina! A sala vibra em palmas.
Olhares vão da menina à tela. E o Rei,
Ao pintor que assim retrata as almas:
_ Pede quanto quiseres! Diz, que te darei!

Senhor, se meu trabalho algum valor alcança,
Se me queres pagar, Murilo principia,
Então, dai liberdade ao pai desta criança
Em nome da beleza e em honra de MARIA!

E as duras férreas portas da prisão,
Abriram-se de par em par,
E das celas sombrias viram sair liberto o condenado
Louvando a Conceição sem mácula de MARIA!


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Era uma luz no fim do túnel e eu não podia perder.
Era a oportunidade que me batia à porta.
Seria uma Delegada de Polícia, mesmo paraplégica!
Registrei a idéia e parti para o confronto.
Talvez o mais ousado de toda a minha vida.
Era tudo ou NADA!
(Genaura Tormin)



"Sou como a Rocha nua e crua, onde o navio bate e recua na amplidão do espaço a ermo.
Posso cair. Caio!
Mas caio de pé por cima dos meus escombros".
Embora não haja a força motora para manter-me fisicamente ereta, alicerço-me nas asas da CORAGEM, do OTIMISMO e da FÉ.

(Genaura Tormin)